Os Carneiro de Mendonça


por Priscilla Bueno

INTRODUÇÃO

Durante minha infância e juventude, nossa família se reunia seguidamente em torno de meus avós, Anna Amelia e Marcos Carneiro de Mendonça, na casa da rua Cosme Velho, no Rio de Janeiro. Nessa casa morei também até por volta de 1974. Os irmãos de minha mãe, que moravam em Minas Gerais, vinham para as férias, trazendo os filhos. Nessas ocasiões, éramos 25 pessoas para o café, almoço e jantar. Os encontros na sala do piano e a conversa interminável em volta da mesa do jantar são lembranças vivas e nostálgicas. Esse ambiente de reunião familiar, que até hoje me fascina, foi com certeza o ponto de partida para o meu interesse genealógico.

 

Em 1975, às vésperas da maternidade, a busca das raízes se tornou ainda mais importante, pois iria agora eu mesma contribuir para a história familiar, dando continuidade com mais uma geração. Lembro-me de perguntar a meu avô Marcos, qual a ordem correta do nascimento dele e de seus irmãos (Henrique já falecido, Luiz meio distante e Fabio sempre presente), e logo organizar um documento com a família dos quatro, e seus descendentes. Isso foi tão fácil e rápido, que logo parti para a busca da próxima geração, o pai deles Alberto e seus sete irmãos. Decidi não me contentar com apenas mais esta etapa, o que me levou a identificar dez gerações que se espalharam sobretudo em Minas Gerais (Araxá, Belo Horizonte, João Pinheiro, Oliveira, Paracatu, Patos de Minas, Presidente Prudente e Pirapora), Goiás (Goiânia, Ipameri, Luziânia), Brasília e Rio de Janeiro, com 3355 descendentes diretos, sendo que eu pertenço à oitava geração.

 

No Natal de 1976, fiz um documento com a descendência de Joaquim Carneiro de Mendonça, meu trisavô. Na reunião do dia 25, entreguei o documento aos presentes, entre eles Antonio Candido e Gilda de Mello e Souza. Essa feliz coincidência mudaria o rumo da minha pesquisa. Antonio Candido é neto de Laura Carneiro de Mendonça, irmã do Alberto, e desde menino ouviu de sua mãe e tios, interessantes relatos sobre a família, que sua prodigiosa memória recupera nos mínimos detalhes.

 

A partir de 1981, trabalhando no centro do Rio de Janeiro numa área bem diversa da genealogia, os sebos ainda tinham muitos exemplares das publicações de Salvador Moya, os Anuários Genealógicos, Revistas Genealógicas e também outras publicações que fui comprando e formando minha pequena biblioteca com inúmeras informações interessantes.

 

O trabalho me transferiu em 1985 para a cidade de São Paulo. Essa mudança foi decisiva para abrir novos rumos para minha pesquisa. A partir daí, os encontros mais frequentes com Antonio Candido, me instigaram a perseguir novos caminhos na investigação sobre os Carneiro de Mendonça. Foi através dele que soube da existência da árvore desenhada por Mauricio Limpo de Abreu - que mais tarde localizei com sua neta - e que confirmou a ordem de nascimento dos filhos de João Jose e Josefa Carneiro de Mendonça, de quem descendemos. Foi também de suas mãos que recebi a cópia do inventário do João José Carneiro de Mendonça, localizado por nossa prima Vera Assis Ribeiro, em Paraíba do Sul, RJ. E também o Boletim Informativo Trem da História, no 8 / 1993, do Departamento de Patrimônio da Fundação Cultural Calmon Barreto, de Araxá, com o artigo "Sobre a Origem das Famílias - Carneiro de Mendonça - Carneiro de Paiva", onde está a informação de que João José é filho de Bento Carneiro de Mendonça e neto de Manuel Carneiro Figueira.

 

Durante muitos anos o tempo que pude dedicar à pesquisa foi bem reduzido e o progresso se deveu mais a contatos por telefone, muitas cartas (depois emails), e pequenas viagens, criando uma rede de informações onde um parente indicava outro e assim por diante. Os Carneiro de Mendonça se entrelaçam com outras famílias como os Almeida Magalhães, Pimentel Barbosa, Adjuto, Botelho, San Tiago Dantas, Miguel Pereira, Tolentino, Junqueira, Amarante, Correa Pinto, Bulhões de Carvalho, Pitanga, Rezende Costa, Duque Estrada, Nogueira da Gama, Castello Branco e Monteiro de Barros, para citar algumas.

 

Ao longo do tempo, comecei a escrever notas biográficas sobre os parentes. Impor limites à pesquisa é bem difícil; para mim, o pior foi não ter coragem de descartar informações sobre os cônjuges e suas famílias. Tanto assim que inclui também suas notas biográficas, mas principalmente, dados sobre sua ascendência, confirmando o entrelaçamento das famílias.

 

Apesar de na conferência de meu avô Marcos, "Do Arraial da Meia Pataca à Fazenda Itamarati", ele sugerir que os Carneiro de Mendonça se estabeleceram primeiro no Desemboque, curiosamente nas conversas familiares, Paracatu era sempre o local mencionado como dando origem à família. Para Paracatu, o genro de João José Carneiro de Mendonça, marido de sua segunda filha Ana Luiza, o Visconde de Abaeté, foi nomeado Ouvidor em 24 de setembro de 1823. Para entender melhor o assunto e a importância de Paracatu, viajei para lá em 1996, passando dois dias e meio conhecendo e conversando com os Carneiro de Mendonça lá estabelecidos, identificados como descendentes dos irmãos Mariana e Francisco de Paula, terceiro e quarto filhos de João José. Esse ramo familiar tem o mais alto nível de endogamia de toda a família, sendo estreitamente ligado aos descendentes da matriarca mineira Dona Joaquina do Pompéu.

 

No entanto, à medida que progredia a pesquisa, mais se destacava Araxá, como o local onde João José, Josefa e seus filhos João e Joaquim se estabeleceram e de onde mais tarde se transferiram para Petrópolis e Rio de Janeiro. De acordo com o artigo do Trem da História, a família Carneiro de Mendonça participou da fundação da Freguesia de São Domingos do Araxá em 1791. Haviam chegado nessa região como criadores de gado, atraídos pelas águas minerais do Barreiro e receberam as primeiras sesmarias a partir de 1785. Foi lá que estavam João José e Josefa durante a Revolução Liberal de 1842, quando ela já sexagenária, foi "presa e submetida a vexames e a processo" e por isso a família, com graça, a ela se refere como ´o maior homem da família´.

 

A partir de 2004 pude dedicar mais tempo às pesquisas, não só de toda a documentação que reuni nesses 30 anos, como no Arquivo Nacional e Cúria Metropolitana do Rio de Janeiro, onde encontrei bastante documentação que está transcrita nas notas biográficas (decretos do Império, certidões de batismo e casamento). O site do Senado Federal, com decretos do Império, também foi de grande valia. Na busca das raízes belgas, o arquivo da cidade de Bruxelas proporcionou inúmeras informações interessantes, como a certidão de nascimento de Leocadie Procureur, mãe de meu avô Marcos e a certidão de casamento de seus pais, Jules François Procureur e Anne Catherine de Boeck, bem como a identificação de vários outros membros da família através dos livros de censo de 1856 a 1890.

 

Em agosto de 2009, passei uma semana mergulhada nos arquivos do Fórum Tito Fulgêncio, sob a guarda da Fundação Calmon Barreto em Araxá, onde localizei, entre outros documentos, o testamento, inventário e partilha de Bento Carneiro de Mendonça, informações preciosas que confirmam definitivamente a atuação da família naquela região.

 

Muitos agradecimentos são necessários. Tantos e tantos parentes que se dispuseram a trocar informações por cartas ou telefone, me receber e ajudar com documentos e fotografias: Tharcysio Carneiro de Mendonça, Geraldo e Fernando Mello Barreto, Amália Faria, Geraldo Dirceu Oliveira, Amalita Vasconcellos, Madalena Abaeté, Maria Cristina Laet, Pe Pedro Guimarães Ferreira, Violeta de San Tiago Dantas Barbosa Quental e seus irmãos, e tantos outros.

 

Carlos Reingantz, que fui visitar em Petrópolis, levando meu primeiro trabalho, muito me incentivou a continuar buscando as raízes da família. O ministro Mario Gibson Barbosa, que gentilmente me deu informações sobre Dora Vasconcellos.

 

Durante os preparativos da viagem a Paracatu, meu primo Marcio de Moura Castro sugeriu que eu procurasse Dalinha Neiva. Essa indicação se provou fantástica pois, quando lá cheguei, ela havia entrado em contato com os Carneiro de Mendonça da cidade e agendado visitas e encontros, o que sem dúvida tornou a viagem não só produtiva, mas principalmente acolhedora e agradável.

 

Pesquisando na internet encontrei o site A Raposa da Chapada, de José Aluísio Botelho, mineiro de Paracatu, residente em Brasília. Aluísio forneceu informações importantíssimas, entre elas, os nomes dos pais e irmãos de Josefa Maria Roquete Batista Franco, depois Carneiro de Mendonça, esclarecendo dúvidas e suspeitas antigas.

 

Dom Cassiano, OSB, Mordomo da Abadia Nossa Senhora do Monserrate, foi gentil e generoso ao conseguir autorização para eu fotografar a lápide dos restos mortais de João José Carneiro de Mendonça, que falecido em Petrópolis em 1853, foi transferido para a sacristia da igreja do Mosteiro de São Bento no Rio de Janeiro.

 

Maria Trindade Coutinho Resende Goulart e Keyla Barbosa Machado, da Fundação Cultural Calmon Barreto em Araxá.

 

Edgardo Pires Ferreira, que já esclareceu muitas dúvidas e deu muitos conselhos. Sem suas cobranças, possivelmente eu não estaria aqui escrevendo esta introdução. Roberto Menezes de Moraes, gentilmente reviu meu trabalho e fez significativas contribuições. Meu filho, Guilherme, fez algumas das fotos que aqui aparecem, e me salva todas as vezes em que há um desentendimento entre mim e a máquina! Agradeço também a Eliana de Moura Castro, prima querida, amiga de todas as horas e conselheira paciente.

 



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