História de Anna Xavier Palhares (Annica - Anna Palhares Machado)


22-4-1839 . 1-7-1913 - Rio de Janeiro [idade: 74 anos]

   NOTAS


Livro: Queiroz, Borges da Costa, Machado & Palhares - Genealogia e Histórias

- No caderno de notas de couro marrom onde estão todas as datas de nascimentos dos Palhares anotadas, Anna Xavier Palhares está como Anna Rita [como sua mãe], e na notícia de seu casamento também. No arquivo do Family Search [Indexing project C68962-1 Source film number 1253728] a data de nascimento é 22 nov 1833 e o batismo 22 dez 1833 e os nomes dos pais estão corretos.

- Sepultada no Carneiro 5142, Cemitério São João Baptista, Rio de Janeiro.

- Foi batizada na freguesia do Santíssimo Sacramento e foram seus padrinhos seu tio José Maria Palhares e Nossa Senhora.

- Em 15 nov 1878 [Gazeta de Notícias]  No testamento do finado chefe de esquadra reformado Francisco da Silva Lobão, foram nomeados testamenteiros em primeiro lugar: coronel Amaro Emilio da Veiga, em segundo: capitão tenente Vicente Navarro Cardoso, em terceiro: Dr. Joaquim José Palhares, em quarto: brigadeiro Manuel Estanislau de Castro Cruz e em quinto: Francisco de Paula Palhares, aos quais marcou o prazo de 2 anos para prestação de contas... Deixou os seguintes legados, entre outros: ao Exmo. Visconde de Tamandaré, em sinal de recordação e testemunho do seu reconhecimento a sua amizade, 2 apólices da Dívida Pública; ao Dr. Joaquim José Palhares, 2 ditas; a Antônio Carlos Palhares, 2 ditas; a Domingos Xavier Palhares, 2 ditas; a Joaquim José Palhares Sobrinho, 2 ditas; a Francisco de Paula Palhares, 2 ditas; a Maria Xavier, 2 ditas; a Maria da Conceição Xavier, 2 ditas; a Maria úrsula Palhares, 2 ditas; a Maria Gertrudes Palhares, 2 ditas; a Maria das Neves Palhares, 2 ditas; a Gertrudes Rita Palhares, 2 ditas; a Guilhermina Palhares, 2 ditas; a Anna Rita Xavier Palhares Machado, 2 ditas.

- Em carta de 15 maio 1898, Petrópolis [Mauricio Gudin para Anna Machado] Cara vovó Machado, Agradeço muito os votos que a senhora, Chachacha e Mana fazem por minha felicidade e estimarei saber que estão gozando boa saúde. Aqui estamos todos bons. Mando muitas lembranças a todos de casa. Aceite um apertado abraço do seu amigo. Mauricio [Gudin]

- Em carta de 30 nov 1902 [Anna Machado para Laura] Tivemos a surpresa de ver aqui papai e a Totota pois ele veio traze-la e conhecer o Luiz e a Annita, a nossa boa amiga Carlotinha e o Snr. Henrique ficaram com as manas fazendo-lhes companhia, ao que lhe fico muito agradecida.

[Carlotinha e Henrique Tribolet, ele (*RJ 20 abr 1862 †RJ 1908) foi um pintor e desenhista franco-brasileiro. Foi aluno e companheiro do paisagista italiano Nicola Facchinetti, a quem deve toda sua excelente formação artística. Tal como seu mestre, deixou muitos quadros em pequeno formato. O tema principal de sua obra é a paisagem. Seu desenho é correto e as cores suaves mas bem escolhidas. Um pintor há muito esquecido que só agora vem recebendo dos críticos e colecionadores a atenção que sua obra merece. Participou do salão da Escola Nacional de Belas Artes em 1896, através da exposição de seis trabalhos: Cascata grande (Tijuca), Panorama da Boa Vista (Tijuca), Trecho da Tijuca, Vista da fábrica de chitas, Laranjeiras e Lagoa Rodrigo de Freitas. No acervo do Museu Nacional de Belas Artes, encontra-se um óleo de sua autoria intitulado simplesmente Marinha, datado e assinado em 1896 (inventário nº 2753). Pintou o chalé da Estrada Nova da Tijuca, onde Luiz Machado e Anna Palhares moravam]. 

- Em carta de 24 fev 1903 [Anna Machado para Laura] O carnaval este ano tem estado muito influído, no domingo fui com a Margarida e a Mariquita para a rua do Haddock Lobo ver passar as sociedades do Club da Tijuca, e dos Destemidos que estavam muito bonitas qualquer das duas, houve muito entrudo e muito confete, haviam combates horríveis entre as moças, estava muito animado, hoje vamos para a cidade para a casa Rache, pois devem sair os Fenianos e os Democráticos e muitas outras, sinto bastante não estarem aqui pois as crianças haviam de gostar muito de ver.

- Em carta de 18 abr 1903 [Anna Machado para sua filha Laura] O Napoleão manda perguntar de que cor queres as palas para os bonés e manda muitas lembranças ao Juca, a ti e às crianças.

NAPOLEãO DE OLIVEIRA

Notas de Barbara Heliodora

Ele era mais velho que minha mãe, Anna Amelia, a quem chamava, como a família quando ela era pequena, de Anniquinha. Ele foi criado pelos Machado, ao mesmo tempo que Eugênio Gudin (1886 - 1986), que pode ser o referencial de idade.  Seu nome era Napoleão de Oliveira; seu sonho era ser oficial do Exército mas, neste país que tanto se gaba de não ter preconceitos raciais, não pode entrar para a Academia. Foi carteiro a vida toda, e se gabava muito de jamais ter faltado ao serviço, bem como de, em seus últimos anos de atividade, ser o carteiro da rua do Ouvidor, naquela época (anos 20 ou 30), o grande centro bancário do Rio e, portanto, local de correspondência muito importante.  Ele fez um depoimento para o Museu da Imagem e do Som (pediu ao pai e à mãe [Marcos e Anna Amelia] para irem com ele no dia), porque foi amigo de muitos músicos (com certeza do Jacó do Bandolim), por pertencer ao famoso Ameno Resedá. Ela fazia letras para músicas de compositores do grupo. De vez em quando pedia à mãe [Anna Amelia] para fazer letras e depois dizia que os outros sempre achavam as letras melhores quando eram dela.  Casou-se com uma senhora com quem viveu até morrer e era um carnavalesco apaixonado. Todos os anos, na época do carnaval, aparecia pedindo um vestido velho, pois sair de mulher com o dito cujo, era a fantasia mais barata que podia arranjar. Fora isso, aparecia regularmente, geralmente para filar um almoço. Eu me lembro muito bem dele. 

- Em carta de 22 set 1903 [Anna Machado para Laura] Estimo que tivesses visto passar o Santos Dumont. Aqui tem havido muitas saudações, chegam a carregá-lo quando ele vai à rua do Ouvidor, dão-lhe vivas, palmas, um entusiasmo extraordinário.

- Em carta de 23 abr 1903 [Anna Machado para sua filha Laura] As galinhas chegaram muito bem e ainda uma vez te agradeço.

- Em carta de 27 jul 1903 [Anna Machado para sua filha Laura] ... diz ao Juca que estou esperando o saco de feijão que me prometeu, e em 10 ago 1903 : ... Já te escrevi acusando o recebimento do feijão e agradecendo-te e ao Juca, pois já comemos dele e está muito bom.

- Em carta de 29 out 1903 [Anna Machado para sua filha Laura] Recebi as galinhas e o peru que muito te agradeço.

- Em carta de 10 out 1904 (Anna Machado para Laura) Tenho cosido bastante pois do que ficou para eu fazer do enxoval de D. Mariquinhas Muratori fica pronto esta semana, que foi uma dúzia de camisas abertas, 6 roupinhas todas enfeitadas de renda e entremeio de linho e 6 toucas de franzidos.

- Em carta de 15 nov 1904 [Anna Machado para Mariquita] Por aqui estão as coisas  muito feias, ninguém vai a cidade trabalhar pois desde anteontem que está tudo em revolução, tem havido o diabo, ferimentos, mortes, em fim, todos estão horrorizados, felizmente a nossa Tijuca está em paz. [Revolta da Vacina foi uma revolta e manifestação popular ocorrida entre 10 a 16 de novembro de 1904 na cidade do Rio de Janeiro, Brasil. O início do período republicano no Brasil foi marcado por vários conflitos e revoltas populares. O motivo que desencadeou isso foi a campanha de vacinação obrigatória, imposta pelo governo federal, contra a varíola.]

- Em 22 fev 1905 cartão para Anna Machado: Abraça o afilhado Eugenio Gudin

- Em carta de 19 mar 1905 [Laura para JJQJr] Chegamos á hora, tendo tido uma viagem magnífica quanto à marcha do trem, porém cheia de desassossego imaginando mil coisas desagradáveis. Aqui estou, onde encontrei mamãe muitíssimo abatida e gemendo com dores no fígado; assim esteve até a 1 hora quando graças a Deus, foi melhorando aos poucos.  Agora (8 da noite), ela está dormindo, o que não podia fazer desde ontem. Acho-a agora melhor que de manhã, porém ainda muito abatida e desanimada. Deus permita que ela tenha um sono reparador, e que amanhã apresente uma melhora satisfatória.

- Em carta de 20 mar 1905 [Laura para JJQJr] Esqueci-me de falar-te nos frangos, e muito te agradeço o favor que me vais fazer. Vê se a Cândida arranja mais 18 (ela levou na sexta feira 6 que estão no galinheiro e já pagos) e pede ao Jacob que faça o que eu costumo, isto é, meta os 24 no balaio que ele fez a meu pedido, leve-os ao Sr.  Moura para ele pesar e dar o conhecimento com data do dia seguinte, traga os frangos e feche-os no cercado de arame com água e milho, para no dia seguinte levá-los então de vez para virem no noturno, tendo o cuidado de coser bem a tampa do certo com arame.  Os 6 que estão aí paguei 500 réis por cada um, e disse à Cândida que queria os outros do mesmo preço e tamanho, ela porém disse-me que talvez viessem alguns um pouco maiores e portanto mais caros, o que eu não pus dúvida, não passando de 700.

- Em carta de 28 mar 1905 [Laura para JJQJr] Vê se apressas os frangos, pois os que havia mandado por Titi, já se acabaram, e o médico que para mamãe uma dieta rigorosa (bem contra seu gosto).

- Em carta de 14 mar 1908 [Anna Machado para sua filha Laura] Por aqui papai tem passado mal com a bronquite muito alterada, não quis que chamasse o Dr. Moreira de Carvalho [médico, Dr. Augusto Cotrim Moreira de Carvalho, com consultório na rua Conde de Bonfim 182], tomou um purgante de óleo e felizmente melhorou. 

- Em 6 nov 1908 [diário de Laly] Bodas de ouro: No dia 4 de novembro tornamos a ir lá para as bodas de ouro de nossos avós maternos e também, mas nem por isso, para ver a exposição.  O diário de hoje precisa ser grande porque desejo contar o dia das bodas de ouro dos meus avós que foi no dia seis de novembro, e que desejo guardar para sempre na minha memória, pois penso que um dia feliz como este nunca deve ser esquecido, e não posso fiar-me na minha memória porque mesmo não a tenho. Pois bem, ao amanhecer começarão todas a arrumar a casa pois esperava-se visitas, apesar de estar um ida chuvoso.  á uma hora começarão a entrar os convidados, e, só de fora, a jantar havia 38 pessoas. Nós não jantamos na mesa, porque não tinha lugar, só fomos para a sobremesa.  Eu disse um bonito discurso que papai tinha inventado e Anniquinha deu um papel no qual tinha escrito uns versos inventados por ela na hora da sobremesa.  Já de manhã tínhamos dado um vestido á vovó e um chapéu e uns colarinhos e punhos á vovô.  á tarde brincamos muito com algumas crianças que lá estavam.  Esqueci de dizer que Beata, Olguinha, Annita e Totota deram também seus presentes de manhã.  Beata, Olguinha e Annita deram uns paninhos bordados por elas, e eu me admirei porque Annita só tem 6 anos e tinha naquela ocasião 5; e vovô também fez na hora da sobremesa um discurso muito bonito.  Nós nos deitamos só as doze horas da noite, Beata, Olguinha, eu e Anniquinha e Totota à uma hora.  Depois, no dia doze de manhã Tititi, tia Julia, Beata, Olguinha, Luiz, Annita, Titi e Julinha foram para a fazenda das Três Ilhas e nós viemos para cá de tarde.


- Em 6 nov 1908 [cartão de Anna Amelia aos 12 anos]

1858 - 1908

Aos bons e caros avós, saúda afetuosamente pelo grande dia de hoje, a neta que muito os ama, Anniquinha

 

Descem do céu anjinhos que, sorrindo

Entoam belos cânticos em coro;

Vem todos eles, cada qual mais lindo,

Para saudar as vossas Bodas de Ouro.

 

Um deles, dentre os mais encantadores,

Vem na frente a sorrir, mimoso e louro

Por entre as brancas nuvens joga flores,

Saudando assim as vossas Bodas de Ouro.

 

Cinquenta anos de união perfeita

Trazendo sempre a alma satisfeita...

Oh! este dia é mais do que um tesouro!

 

E nós, cheios de amos e de alegria,

Também saudamos este santo dia

Em que contais as vossas Bodas de Ouro!

 

- Em 6 fev 1909 [diário de Laly] Mamãe esta muito incomodada coitada! E eu também, e creio que papai e Annie também, pela enchente que houve no Rio de Janeiro (cidade não Estado). Memem escreveu uma carta a Mamãe e disse que foi terrível.  Ela estava na casa do Dr. Buarque e não sofreu nada, mas Vovô e Vovó e as outras tias que estavam em casa coitados! Me parece que sofreram bastante. Disse que havia agua pelos joelhos.  Que Vovó perdeu as forças e Edgar gritava coitadinho, com toda a força. Totota quase desmaiou. Chachacha e Mecameca pediam socorro e queriam arrebentar o muro.  Isso levou quase uma meia hora por que o barulho da chuva não deixava ouvir-se os gritos de Chachacha e Mecameca.  Memem não podia ir ajuda-las por que não podiam lutar contra a água. Até que afinal Dr. Buarque e Dr. Joaquim mandaram os feitores ajudarem a elas. Foram todos para a casa de Dr. Buarque e não sei se ainda lá estão. Vovô só chegou à meia-noite porque tinha ficado preso no escritório porque com as ruas que pareciam rios não havia bonds.  Graças a Deus agora, que tudo se passou todos estão de saúde segundo Memem diz na carta e desejo que assim seja.  

- Em carta de 23 out 1909 [de Guilhermina para a amiga Margarida) Estimo que seu pai tenha lucrado com a estada em Minas e que D. Anica tenha vindo mais forte.

- Em carta de 23 jan 1913 [Anna Machado para sua filha Laura] Recebi os frangos que chegaram bem e muito agradeço. Chegaram 28 cabeças.

- Em 2 jul 1913 [O Imparcial] Enterros: baixaram ontem à sepultura no cemitério de São João Batista os despojos mortais da Exma. Sra. Anna Palhares Pereira, esposa do Sr. Luiz Alves Pereira Machado e mãe do engenheiro Christiano Machado.

- Em carta de 9 jul 1913 [Laura para JJQJr - em papel com tarja preta de luto) Por cá vamos passando sem novidade, sentindo sempre muita falta da nossa cara mamãe que deixou tão vazia esta casa!

- Em 28 jul 1913 - Campos, Silva & C., Grande Depósito e Oficina de Mármores, rua General Polidoro, 272, Para o carneiro de adulto N. 5142 de cemitério São João Batista, pedra mármore de 0,03 com elevações, letras em relevo, licença e uma cruz: R$198$000.

- Em 22 abr 1939 [A Noite] Em comemoração ao centenário de seu nascimento, sua filha Laura comunicou à diretoria da Pro Matre que a partir dessa data manteria nessa instituição, um leito com o nome de sua mãe.

Álbuns


Anna Amelia & Laly



26 fotografias.


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