Livro: Os descendentes de José do Rêgo Trigueiro e Flora Francelina do Rêgo Maranhão - Genealogia e Histórias
- Ocupa a cadeira 15 da Academia Imperatrizense de Letras, cujo patrono é Nelson Maranhão.
- O meu avô Emiliano Herenio Alvares Pereira, era casado com sua prima Maria Herênio Alvares Pereira. Em 1910, faleceu minha avó Maria e, em 1911, meu avô casou-se com Otília Martins com quem gerou uma única filha: a nossa fabulosa e pranteada que veio a se tornar Alzira Herênio Medlig. A tia Alzira Herênio, irmã. em segundas nupcias de minha mãe Raimunda Herênio, que veio a se casar com o carolinense Conrado José de Souza. Alzira que era a caçulinha mimada do segundo casamento de meu avô, veio a casar com um cidadão sírio-libanês - de nome abarasileirado para Mamede Medlig - que, procedente do Oriente-Médio, viveu algum tempo em trânsito por Imperatriz rumo a Marabá, o eterno eldorado paraense, onde vivia seu pai e muitos compatriotas. Por sinal, Marabá era a terra onde residia a magia dos sonhos de Abílio, onde enamarou-se e terminou casando-se com Carmen, a paixão de sua vida.
Em razão desse segundo casamento de meu avô com Otília que gerou Alzira que, com Mamede, tiveram duas filhas. Uma filha a quem deram o nome de Teresinha, nascida em 1929. Em 09 de janeiro de 1933 veio ao mundo sua caçulinha, a quem Mamede deu o nome de Sophia, querendo homenagear a mitologia grega. Infelizmente, embora sendo um homem forte, foi acometido de grave doença pulmonar grave em Marabá. Mamede veio alogo a falecer, em Imperatriz deixando Sophia aos 9 meses de idade.
Vê só o longo seguimento da história. Anos se haviam passado e eu, na condição de órfão de pai e praticamente de mãe, eis que minha genitora estava inválida por doenças menteais, vivendo em companhia de familiares pobres, em Imperatriz. De um nascimento faaustoso, castelos de cartas se haviam ruído. A partir dos 11 anos de idade, rebaixado da riqueza para a extrema pobreza, custeando os próprios estudos, até que um Abílio mandou que seu primo Polary Ayres Rego (filho de Elisa Maranhão Ayres) fosse a Imperatriz buscar-me para viver em Carolina, em companhia de meu tio Diógenes. Em Carolina, já possuidor de razoável instrução e ser datilógrafo "cata-milho", passei logo a ser o "braço direito" de meu tio, substituindo Genésio que estudava em Belém. Era um jovem admirado por meus familiares carolinenses, como se fora uma espécie de dono do pedaço...
Com o retorno de Genésio, apaixonado por Elisa, devolvi o posto de trabalho que já lhe pertencera, no início de 1946. Ao lembrar dos clamores de minha mãe que bradava por mim, em dezembro de 1946 abandonei Carolina e, às próprias expensas, embarquei com destino ao Rio. Por aquí, a história foi longa. Rossini recem-casado com Maria Odete, morava em pequeno apartamento de quarto-sala com dependências, situado na Rua dos Araujos, 40 ao. 204, na Tijuca. Lembro-me de que um dia, quando Sérgio contava alguns meses de vida, deparei com Odete que, embora tivesse contratado uma excelente auxiliar, preferia ela mesma alimentar o seu querido filho. Lembro: tendo em mãos um prato de mingau, lutava para alimentar Sérgio, usando o próprio dedo, enquanto ele recusava... O desespero é que ela tinha logo de pegar o ônibus Saenz Peña-Castelo para ir ao trabalho. Não me fiz demorar.
Após servir à Aeronautica militar (em Marechal Hermes) por dois anos, dei baixa. Recusei ofertas para carreiras subalternas, no âmbito interno; afinal, tinha em mente objetivos maiores. Desorientado sobre a vida civil na terra carioca, comi o pão que o diabo amassou. No começo, cheguei a morar uns dias na subida do morro São Carlos, a fim de sobrar algum ganho para manter os meus estudos. Dias após, mudei-me para uma "república" de estudantes situada na Praia de Botafofo, 520, ao lado da entidade "União das Operárias de Jesus", presidida por D. Clotilde Guimarães, que tinha Fausto Barbosa como secretário.
Trabalhei ali, como "avulso", menos de três meses. é que já se aproximava um Novo Tempo em minha vida, a Era da Aviação. A história é longa e enfadonha. Mas tudo isso foi muito bom para me fortalecer a personalidade. Após uma boa jornada, concluí o curso de radiotelegrafista (através do código morse). Licenciado, especializei-me para exercer a profissão a bordo de aeronaves, pois não havia comunicação em fonia (terra-bordo) dos aviões. E no mercado, havia carência de tais profissionais. Em meados de maio de 1951, saiu anuncio de página inteira no Jornal do Brasil, publicado pela Varig, então empresa regional gaúcha que procurava radiotelegrafistas de bordo. Haviam mandado um chefe da área ao Rio para tal empreitada. Lembro-me bem: o atendimento da Varig me foi feito em sua "sede representativa" que possuia um único funcionário, o Paulo Regius. Era uma saleta localizada numa sobreloja, na Rua Santa Luzia esquina com Av. Rio Branco. As minhas aspirações não eram a Varig e sim trabalhar em empresas de maior porte. Porem, refletindo por instantes, pensei: ora nada tenho a perder. Vou aceitar esta oferta enquanto surge a oportunidade que pretendo. Foi assim que ao meio dia 16 de maio de 1951, embarquei com um outro colega com destino a Porto Alegre, em vôo especial cargueiro Rio-Porto Alegre. Quem estava no sul, naquelas épocas, vir ao Rio era ir a Paris... Em Porto Alegre, me vi logo cercado por inenarrável carinho de novos colegas, que se tornaram grandes amigos. Após as devidas instruções, eu e meu colega fomos integrados no vôo da empresa. Ao saber de nossa chegada à capital gaúcha, o consório Real-Aerovias, que surgia no eixo Rio-São Paulo, com franca expansão ao nordeste, começou a nos assediar, para voar na organização, com sede em São Paulo, ganhando mais que o dobro do que percebíamos. Os convites eram constantes. Como todas as noite uma média de 14 a 16 colegas nos reuniamos para jantar, resolveram colocar em "votação" a nossa ida para São Paulo, que alegavam ser uma cidade sem alma. Não deu outra: optaram pela nossa permanência na VARIG. E assim, aquilo que era para durar pouco tempo, terminou se extendendo por 36 longos anos.
A minha primeira viagem "internacional" foi Porto Alegre-Montevideu, num aviãozinho de apenas nove lugares (Eletrinha E-10-A). Foi num dia de verão. Ao recolher-me ao quarto que me coube, num dado momento, mirando o teto fiquei a refletir, pensando no sofrimento de minha querida mãe que ficara naquele distante e ermo sertão, às margens do Tocantins. Olhando para o teto, indaguei às forças maiores da Criação: Deus Meu, o que estou fazendo aqui?
à época, sua revista de propaganda, a Panair do Brasil que chegara a ter escalas em Carolina, certo dia colocou artigo citando a concessão ida e volta ao Rio a pedido Alfredo Maranhão , para que viesse tratar de sua filha que nascera com sequequelas excepcionais. Quem dona do pedaço era a Cruzeiro do Sul (ex Condor) Aerovias Brasil etc. Porém, ao se referir a Carolina, a citada revista de luxuosa textura em ampla divulgação menciou o fato e a cidade como "ponto apagado no mapa geográficol". O fato irritou os orgulhosos carolinenses, que já desfrutavam de farta ligação aérea com os grandes centros.
Voltemos ao meu caso. Casei-me em Imperatriz, cidade que ninguém conhecia. Mal sabia que loga carreira me aguardava no âmbito da Varig, onde árduos estudos me fizeram a exercer as funções técnicas de "Navegador Celistial" pois, o rápido crescimento da Varig exigia que um navegar estivesse à postos para orientar os aviões da empresa nas grandes travessias transoceânicas e transcontinentais. Casei-me em Imperatriz no dia 26 jun 1956. Em 1957 nasceu a então prussiana Maria Regina e, em 1964 veio ao mundo o nosso José Vicente. Isso, ainda nos tampos de vacas magras. Continuei estudando no âmbito técnico da aviação. A Varig expandiu suas linhas para o exterior. Em 1968, transferi-me para o Rio. Tornei-me chefe do quadro de navegadores da empresa e, cumulativamente, chefe do Departamento de Rotas da Várig. Capacitei-me como piloto e continuei exercebdo, cumulativamente, funções técnico-administrativas atinentes aos vôos da empresa.
Após ter visto o alvorecer nos quatro cantos da terra, não esqueci de instigar o Rossini e Odette a visitarem Lisboa e desfrutarem de boa receptividade que lhes foi proporcionada na terra de Camões. A tal distinção, não podiam ficar de fora Abílio e Carmen: surprendi-lhes com tratamento de escol, ida e volta, quando Abílio foi aos Estados Unidos tomar posse como Governador do Rotary Clube em Goiânia.
Perdão, Priscila! Poderás contestar, dizendo: mas Zequinha eu só queria saber de tua união como primo de Sophia, e me vens com toda essa cansativa história!... Olha, Priscila, parte da resposta foi dado no ínício. A sequencia ocorreu após minhas idas a Imperatriz visitar minha mãe quando em 1954, quando iniciamos o nosso namoro, terminamos nos casando, quando Sophia deixou a então selva imperatrizense para viver e gerar filhos comigo na capital gaúcha. Foi um início dificil, bem verdade, mas no fundo valeu: afinal, nessa jornada de 56 anos, Sophia me fez gerar filhos, plantar árvores e escrever livros, em nossa mensagem à posteridade. Escusas pelo castigo. Abração amigo. Zé Herênio