Livro: Os descendentes de José do Rêgo Trigueiro e Flora Francelina do Rêgo Maranhão - Genealogia e Histórias
Livro: Carolina meu mundo Perdido [Rossini Gonçalves Maranhão, 1971] , p. 69-70
O casamento de meu avô
Os seis sobreviventes da família Rego Maranhão que fizeram sua retirada do Quixeramobim, CE, na seca de 1877, atravessando os campos ressequidos e as pastagens crestadas pelo sol, numa viagem que durou mais de cem dias, chegaram afinal a Carolina onde a grandiosidade do rio Tocantins assombra o viajor sedento com a sua imensurável natureza liquefeita, ali esbarraram com o espetáculo que os seus olhos jamais haviam visto e choraram de emoção.
Eram cinco homens e uma mulher, filhos de José do Rego Trigueiro e Flora Francelina do Rego Maranhão, netos pelo lado materno da figura histórica de Jerônimo de Albuquerque Maranhão. Jovens ainda, chegaram os irmãos Amâncio, Antônio, Filipina, João, José e Manuel do Rego Maranhão, todos querendo trabalho que facilmente conseguiram, graças a um comportamento exemplar e uma disposição e habilidade logo comprovadas.
Antônio do Rego Maranhão rapaz afeito à criação de gado e ao amanho da terra, foi logo procurando pelo coronal Joca Aires que precisava de vaqueiro para a sua fazenda Santa Teresa situada nas úberes terras da Lapa próximas ao município do Riachão. Solteiro ainda faltava ao jovem cearense o principal requisito ao exercício da atividade para que era procurado, mas o coronel Joca, homem prático e experiente, tratou imediatamente de dar solução ao problema arranjando o casamento de Antônio. Com tal objetivo visitou a proprietária da fazenda Alegria, sua vizinha a viúva Isidora Rodrigues. Contou-lhe a história do cearense, das dificuldades por que passada, do seu caráter, da sua firmeza de propósitos, conseguindo a muito custo vencer a resistência de dona Isidora que consentiu o casamento de sua filha Raimunda com o novo vaqueiro da fazenda Santa Teresa. D. Isidora Rodrigues descendia do colonizador Elias Barros, baiano, fundador do arraial de São Pedro de Alcântara que mais tarde passou a denominar-se Carolina, enviuvara cedo assumindo a direção da fazenda Alegria, no que demonstrou possuir forte capacidade de mando. Antônio do Rego Maranhão, o vaqueiro que viris a ser meu avô materno foi então levado à presença de D. Isidora para o ajuste de casamento, cuja data foi imediatamente marcada, sem que o candidato pudesse ver a sua prometida. Tr6es meses depois realizava-se a cerimônia de casamento, ocasião em que os noivos se conheceram.
D. Raimunda, moça nova era, entretanto uma perfeita dona de casa graças aos ensinamentos que sua mãe lhe transmitira. Trouxe para o casal o dote que recebeu de sua mãe, composto de algumas rezes e terras. Assumiu imediatamente as funções que lhe cabiam como esposa de vaqueiro, isto é, a fabricação de queijos e manteiga e os cuidados com a casa grande da fazenda onde os patrões vinham passar as férias no fim do ano e mais, aprendeu logo a amar o marido cearense caldeado na seca, trabalhador, sério e responsável que tomava conta da fazenda do coronel Joca ao mesmo tempo em que trabalhava do seu gado que foi aumentando com as partilhas que recebia do patrão a cada ano, enquanto a família crescia até completar sete filhos, três homens e quatro mulheres.