Livro: Os descendentes de José do Rêgo Trigueiro e Flora Francelina do Rêgo Maranhão - Genealogia e Histórias
- Foi representante da empresa Cruzeiro do Sul (antes Condor e em 1942 nacionalizada por causa da Segunda Guerra Mundial) em Carolina, MA.
- Em 12 jan 1916 [Pacotilha] Está exercendo o cargo de promotor público de Carolina o sr. Diógenes Gonçalves de Souza.
- Em 26 jul 1918 [O Jornal, São Luiz, MA] Hóspedes e viajantes - Deu-nos o prazer de sua visita hoje o sr. Diógenes Gonçalves de Souza, comerciante em Carolina. Por essa gentileza nos confessamos gratos.
- Em 3 mar 1920 [O Jornal, São Luiz, MA] O "Jornal" elegante: Visitas - O sr. Diógenes Gonçalves dos Santos [Nota: de Souza] negociante em Carolina, presente nesta capital, deu-nos o prazer de sua visita, que agradecemos.
- Em 1920 [Carolina, meu mundo perdido, 1975, Rossini Gonçalves Maranhão] Quando comecei a tomar conhecimento das coisas, aí pelo ano de 1920, meu pai possuía uma loja como as de qualquer localidade do interior: um armazém onde tudo é exposto à venda. Vendia-se ali desde o querosene Jacaré até os mais finos tecidos, tendas e perfumes franceses, bacalhau, vinhos e azeite portugueses, finos óculos com aros dourados ou prateados e graus variados para que os clientes escolhessem aqueles que lhes dessem melhor visão. Artigos nacionais eram o sal, os chapéus de palha de carnaúba, alguns calçados e fazendas como o zuarte, morim, algodãozinho e chitas, todas das fábricas de Caxias.
- Em 20 out 1920 [Diário de São Luiz] Notícia de que o Secretário da Justiça e Segurança, oficiou ao delegado de polícia de Carolina para empregar os meios ao seu alcance a fim de impedir a circulação de vales emitidos pelo negociante Diógenes Gonçalves.
- Em 7 jun 1921 [O Jornal] Negociante em visita a Belém.
- Em 1924 / 1925 - [Carolina, meu mundo perdido, p. 73 - 93, Rossini Gonçalves Maranhão, 1971]
A Coluna Prestes em Carolina
O movimento revolucionário irrompido em São Paulo a 5 de julho de 1924, chefiado por oficiais das Forças Armadas descontentes com os atos do governo do presidente Artur Bernardes, a quem chamavam de Mebernardes Rolinha, combatido pelas forças legalistas, deslocou-se da capital paulista, batendo em retirada na noite de 27 daquele mês, rumando para o Sul.
Perseguidos no Rio Grande do Sul, no Paraná e em São Paulo, os revoltosos foram se internando mais e mais enfrentando aqui e ali as forças estaduais que se mantinham fieis ao governo da República. Combatida em todos os flancos a insurreição chefiada pelos generais Isidoro Dias Lopes, Miguel Costa, Coronel Luiz Carlos Prestes, Tenentes-coronéis Juarez Távora, Siqueira Campos, João Alberto Lins e Barros, Osvaldo Cordeiro de Farias, João Cabanas e tantos outros, tomou a direção do Norte, embrenhando-se no sertão goiano, atingindo Pedro Afonso onde a chamada Coluna Prestes se dividiu em dois destacamentos que demandaram o Sul do Maranhão. O 1 (primeiro) Destacamento, comandado pelo Tenente-Coronel Osvaldo Cordeiro de Farias que se fazia acompanhar pelo Subchefe do Estado Maior do Exército Libertador, o seu colega Juarez Fernandes Távora, destinou-se a Carolina e o 2 (segundo) comandado pelo coronel Luiz Carlos Prestes, acompanhado pelo Chefe do Estado Maior do Exército Libertador o general Miguel Costa, dirigiu-se a Riachão. Este destacamento antes de atingir o seu objetivo se subdividiu em duas alas, indo uma para Riachão, com Siqueira Campos e a outra para Santo Antônio de Balsas com Miguel Costa e Prestes.
Era voz corrente então que as forças revolucionárias deixavam nas localidades por onde passavam, um rastro de crimes que cometiam contra a propriedade e contra a sociedade, tornando-se comum a fuga das populações para o recesso das matas à procura da segurança que lhes proporcionava a impenetrabilidade da floresta virgem. Cidades, vilas e povoados abandonados, desertos, ficavam assim entregues à sanha impiedosa de marginais que os saqueavam ante a a confusão e o desespero daquela gente desprotegida.
Homens responsáveis pela cidade de Carolina, aberta e indefesa, recebendo dois oficiais que vieram em companhia de Hildebrando Rodrigues, emissários do do comando revolucionário, portadores de mensagens especiais, responderam aquele comando através de um mensageiro que viajou até a divisa de Goiás, no rio Manoel Alves Grande, onde encontrou as forças revolucionárias e entregou a seguinte carta, assinada por meu pai, Diógenes Gonçalves de Souza, Sandoval Aires Maranhão e Benjamim Carvalho:
Os membros do Partido Republicano Maranhense representados pelos signatários da presente missiva sabendo aproximarem-se da heroica terra de Elias Barros forças do Exército Libertador, dirigem-se ao Comando Geral das mesmas, saudando-o em nome do bom povo desta cidade que de coração genuflexo aguarda a vinda dos bravos defensores da república sã e moralizada.
Apesar dos boatos alarmantes espalhados, aguarda-os a boa terra carolinense na maioria da sua população livre, de braços abertos sem nenhuma tentativa de resistência, confiante e esperançosa na próxima redenção da pátria brasileira.
à disposição das tropas revolucionárias, para facilitar a passagem do rio Manoel Alves, segue um barco tripulado por pessoas adestradas nesse serviço.
Aproveitando a oportunidade apresentamos em nome dos nossos amigos protestos de respeito e simpatia aos valentes defensores dos postergados direitos do povo brasileiro.
Carolina 8 de novembro de 1925
Assinado:
Diógenes Gonçalves de Souza
Sandoval Aires Maranhão
Benjamim Carvalho
Foram os mesmos homens que inspirados por um alto senso de equilíbrio e de liderança convenceram a população a que permanecesse em suas casas e recebesse a revolução sob aplausos. Assim, no dia 15 de novembro daquele ano, quando se comemorava o 36 (trigésimo sexta) aniversário da República as forças revolucionárias entravam em Carolina sob as flores que lhes atiravam as moças da sociedade.
A tropa composta de cerca de 1200 homens ficou acampada nas proximidades da cidade no local chamado Ticoncá, comendo churrascos das reses que pastavam ali por perto, que abatiam a tiros de fuzil e das quais só aproveitavam a carne dos quartos dianteiros, deixando o resto para a população. Os oficiais do Comando e do Estado Maior foram alojados na residência da viúva dona Rosinha Sardinha Carvalho, sogra do Intendente Municipal Sandoval Aires Maranhão e mãe de Benjamim Carvalho. As refeições eram feitas na casa do Intendente.
Comandantes e comandados chegaram a Carolina necessitando de tudo. Aos oficiais faltavam até roupas. Fizerem por isto mesmo inúmeras requisições de roupas, utilidades, animais para montaria, reses para alimentação e até dinheiro em espécie. Os proprietários dos bens requisitados receberam assinados pelo coronel Juarez Távora, documentos referentes às dívidas contraídas que serviriam, segundo explicaram em comunicado publicado no O Libertador de 19 de novembro de 1925, que transcrevemos a seguir, de comprovantes para o recebimento de indenização pelos cofres públicos federais através das Delegacias Fiscais do Tesouro Nacional nos estados, logo que vitoriosa a revolução.
As nossas requisições
As requisições que temos feito são determinadas pelas necessidades da luta em que estamos empenhados.
Não nos move absolutamente a ideia de prejudicar a quem quer que seja.
O alto fim que nos guia o bem supremo da pátria e o restabelecimento da democracia e da liberdade - justifica os meios que pomos em prática para a manutenção das Forças Revolucionárias.
Ninguém deixará de receber as importâncias relativas aos bens com que tiver concorrido para a Revolução.
Para isso, firmamos requisições que serão pagas imediatamente logo que sejamos vencedores, com a apresentação das mesmas às Delegacias Fiscais nos estados ou ao Tesouro Nacional na capital da República.
No caso porem de sermos vencidos, restará aos prejudicados acionarem a União perante a Justiça Federal do estado, onde as ditas requisições tiverem sido lavradas.
A União de acordo com a Constituição e Código Civil, é obrigada a indenizar os prejudicados pelas tropas revolucionárias.
No regime atual todos quantos sofreram com os vários movimentos revolucionários que se deram no Brasil foram indenizados, uns por decisão do congresso e outros por sentenças do Supremo Tribunal Federal como aconteceu nas revoluções de 93, no Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, Paraná e Santa Catarina e a de 1923 no Rio Grande além de outras inclusive a presente em São Paulo, onde os estrangeiros foram pagos sem precisarem recorrer ao poder judiciários.
Isso posto, cumpre-nos ensinar ao povo a maneira por que deve agir para garantir o seu título de crédito contra a União:
1) mandar reconhecer a firma do oficial revolucionário que assinar a requisição;
2) no caso do tabelião não poder fazer esse reconhecimento, mandar duas pessoas abonarem a dita firma reconhecendo as firmas dos abonadores;
30 pagar o selo proporcional no caso de haver valor declarado;
4) registrar a requisição no Registro de Títulos e Documentos.
O prazo para a prescrição do direito de ação é de cinco anos.
(...)
Cerca de quarenta e três anos depois que esses fatos ocorreram, vou a Carolina e lá encontro a maioria das pessoas que neles tomaram parte ou foram espectadoras. Infelizmente não mais está ali meu saudoso pai - Diógenes Gonçalves de Souza, falecido há doze anos. Pesquisando os fatos e angariando a documentação que lhes daria consistência, sinto o vazio que somente aquele ente querido poderia preencher. Como seria emocionante para mim ouvi-lo narrar a sua participação nos acontecimentos que fizeram história, História do Brasil. Político atuante e progressista, meu pai era entusiasta das grandes realizações. Certa vez me dizia: Meu filho jamais se deixe atrair pela política. Ela é mais que um vício, é uma ilusão. Ele tinha razão, vítima que foi por várias vezes da sua dedicação à causa do Partido.
Seus dois companheiros - Sandoval Aires Maranhão e Benjamim Carvalho - ainda lá estão lúcidos e sentindo verdadeiro entusiasmo quando falam sobre a atuação que tiveram lado a lado. Foi um prazer imenso conversar com aqueles homens que em hora tão difícil tomaram em companhia de meu pai a dramática decisão de orientar o povo evitando que dele partisse qualquer atitude menos amistosa para com os insurretos, impedindo o inglório derramamento de sangue. Cada minuto que passei ao lado do venerando ex-Intendente Municipal Sandoval Aires Maranhão, já cego, mas de lucidez e memórias incomuns, ouvindo-o falar dos companheiros de jornada, das providências que adotaram, das dificuldades que tiveram de enfrentar depois por haverem desobedecido ordens superiores, partidas de inconsequentes que determinavam a resistência, tive a nítida impressão de estar ouvindo a narrativa de meu próprio pai. Na casa de Benjamim Carvalho foi quase a mesma coisa. Ele discorre sobre os episódios, fala das atitudes dos companheiros e se deixa dominar pela extrema admiração que dedica ao general Juarez Távora. Abre-me as portas à documentação que possue mas, a exige de volta não permitindo que a utilize em reprodução como é o meu desejo.
Benjamim Carvalho é ainda um entusiasta, um admirador dos homens que fizeram aquela revolução. Sandoval Aires Maranhão, entretanto, comunga das mesmas ideias de meu pai, que era um desiludido quanto às vãs promessas que ouvira. Nunca puderam aceitar a ingratidão daqueles homens a quem tudo deram e que jamais se lembraram da pequenina cidade que os recebeu com dignidade, compreensão e amizade numa época em que viviam escorraçados como párias.
(...)
Rebuscando velhas gavetas do escritório de meu pai, lá fomos encontrar uma requisição de fornecimentos que ele fizera à Revolução, assinada como as demais pelo coronal Juarez Távora e uma carta-circular a ele endereçada e, 23 de outubro de 1925, quase um mês antes da chegada dos revolucionários a Carolina, assim redigida:
Exmo. Sr. Diógenes Gonçalves de Souza
Respeitosos cumprimentos.
Os sentimentos de humanidade que, apesar de todos os boatos tendenciosos nos tem guiado nesta longa peregrinação de sacrifícios, ditam-nos as presentes linhas que por vosso intermédio dirigimos ao povo de Carolina.
Ao contrário do que se tem levianamente propalado, menos em prejuízo nosso, do que para desassossego do povo, não somos uma horda de malfeitores sem escrúpulos e sem ideal.
é falso que sejamos saqueadores ou que permitamos ou toleremos de qualquer forma o desrespeito ao lar de quem quer que seja.
Não queremos combater ou prejudicar o povo brasileiro por cuja felicidade certa ou erradamente, mas de qualquer forma, com fé e convicção julgamos estar trabalhando.
Pedimos, portanto, que aconselheis ao povo permanecer em seus lares, aguardando sem receios a aproximação dos revolucionários que são também brasileiros e possuem sentimentos de honra que os não podem confundir com malfeitores ou bandoleiros.
Toda a nossa tropa está organizada em destacamentos cujos comandantes terão o máximo prazer em atender quaisquer reclamações.
Recomendamos também por vosso intermédio ao povo que não esconda nas matas aquilo que pode estar guardado naturalmente dentro de casa.
Não é possível garantir a quem quer que seja o direito de propriedade sobre objetos que soldados nossos encontrarem escondidos fora dos lares.
Ignoramos ainda si na viagem acidentada que vamos fazendo transitaremos por essa cidade.
Desejamos porem a todo transe evitar o êxodo inútil e aflitivo de tantas famílias inteiramente alheias às paixões políticas que dividem nesta hora a nossa pátria e impedir que como consequência inevitável dele, se consumam abusos aliás perfeitamente evitáveis.
Sem mais, transmiti ao povo de vossa cidade a certeza do nosso respeito e aceitai por isso o protesto do nosso melhor reconhecimento.
Porto Nacional 23 de outubro de 1925
Assinado:
General Miguel Costa
Coronel Luiz Carlos Prestes
Coronel Juarez Távora
- Em 1925 [As Noites das Grandes Fogueiras, Uma História da Coluna Prestes, Domingos Meirelles, 1995]
Domingo, 1o de novembro 1925
A Coluna ocupa a vila de Pedro Afonso, nas imediações do rio Tocantins, e invade o Maranhão em companhia de vários índios, alegres e comunicativos, das tribos Xavantes e Javés, que habitam a região do Piabanhas. Apesar de estarem sempre pedindo dinheiro, querem também alguns cavalos para comer. à noite os rebeldes são obrigados a manter cuidado redobrado com as barracas e, principalmente, com a cavalhada: além de roubar os animais, os índios furtam o que estiver ao seu alcance.
O território maranhense é diferente dos chapadões goianos. Suas florestas tem a exuberância da região amazônica, da qual são prolongamento, com árvores gigantescas, rendilhadas de cipós e emolduradas por bosques de babaçus. A cidade de Carolina, a mais importante do sul do Maranhão, recebe o destacamento de Siqueira Campos de braços abertos. O resto da Coluna avança margeando o Parnaíba em direção à cidade de Flores, localizada em frente a Teresina, capital do Piauí, que fica do outro lado do rio.
Os rebeldes são recepcionados pela Filarmônica Carolinense, que, em uniforme de gala, executa com entusiasmo e ardor a marchinha Ai, seu Mé, apelido pejorativo de Bernardes incorporado ao repertório carnavalesco. No Carnaval carioca de 1922, quando Bernardes ainda era apenas um dos candidatos à Presidência da República, essa modinha lançada durante um espetáculo popular no Teatro São José, na praça Tiradentes, a 16 de fevereiro de 1922, tornou-se uma das preferidas do povo:
"Ai, seu Mé,
Ai seu Mé,
Lá no Palácio das águias, olé!
Não hás de por os pés."
Depois de eleito, Bernardes vingou-se. Os grupos que cantarolavam essa modinha eram invariavelmente presos ou dissolvidos a cacetadas por uma máfia de desordeiros a soldo da polícia de Bernardes, os Cravos Vermelhos. Esse bando de desqualificados agia sob o comando de João Batista do Espírito Santo, conhecido pelo vulgo de Cidadão Pingô, e que também prestava outros serviços ao marechal Carneiro da Fontoura, com quem tinha relações de amizade e estima.
Cercados por tanto carinho, os rebeldes multiplicam os comícios em praça pública. Juarez Távora e Lourenço Moreira Lima dirigem-se à população de Carolina de forma apaixonada. Contagiado pelo clima de apoteose, um dos rebeldes, o sargento João Baiano, protestante convicto, não se contém diante da plateia e faz uma exaltada pregação evangélica.
Juarez Távora e Cordeiro de Farias, em tom de galhofa, telegrafam a Bernardes comunicando-lhe a ocupação de Carolina. A família de Diógenes Gonçalves, uma das mais tradicionais da cidade, recepciona os rebeldes com uma grande festa. Um jovem alto, moreno e esguio, de hábitos educados, filho de uma professora de Pernambuco, num gesto de agradecimento delicia os presentes com um repertório de música clássica ao piano. Além de tocar piano com um talento incomum, o pernambucano João Alberto também extrai maravilhas de um violino. A população de Carolina jamais poderia imaginar que entre os rebeldes existisse um músico tão virtuoso.
O número 8 de O Libertador é impresso na gráfica do jornal A Mocidade. O comércio e o povo recebem explicações sobre as requisições feitas em Carolina e como devem ressarcir-se das despesas, encaminhando os documentos firmados pelos rebeldes para as delegacias fiscais que a União mantém nos estados. Em editorial, o Alto-Comando garante aos comerciantes que esse procedimento está dentro da lei, porque a "União, de acordo com a Constituição e o Código Civil, é obrigada a indenizar os prejuízos causados pelas forças revolucionárias".
Antes de deixar Carolina, os rebeldes queimam em praça pública, diante de uma multidão estupefata, os livros e as listas de cobrança de impostos atrasados. Um dos presentes, que acompanha de perto a destruição dos documentos numa grande fogueira, constata que as chamas ainda não envolveram os seus papéis. Volta-se para Juarez Távora com ar de preocupação e observa:
- Coronel, o meu recibo ainda não pegou fogo.
Juarez autoriza então o homem a queimar, pessoalmente, os seus documentos.
A papelada é rapidamente consumida pelas labaredas, num clima de festa, com a Philarmônica executando mais um número de Ai, seu Mé, para alegria da oficialidade e divertimento da tropa.
Sexta-feira, 6 de novembro
A vanguarda da Coluna, sob o comando de João Alberto, abandona Carolina e marcha agora, a passo acelerado, em direção à cidade de Grajaú. ...
- Em 3 jul 1926 [Folha do Povo] à 21 de março do corrente ano a lancha a vapor Alves de Castro do comerciante Diógenes Gonçalves de Souza chegou festivamente ao porto desta cidade, rebocando um possante barco de mercadorias paraenses, num total de 18 toneladas, conduzindo 12 passageiros. A Alves de Castro queima lenha e tem força de 30 HP. De então para cá tem estado em constante tráfego, tendo feito mais de uma viagem à cachoeira de Santo Antônio em transporte de sal e outra a Piabanha (norte de Goiás) da qual acaba de chegar.
- Em 9 jul 1929 [Pacotilha] Pelo horário de sábado chegou de Carolina o Sr. Diógenes Gonçalves, proprietário da Empresa Fluvial Tocantina.
- Em 31 out 1934 [Pacotilha] Procuradoria Geral do Estado baixou as seguintes portaria: (...) e retificando para Diógenes Gonçalves de Souza o nome do promotor interino da comarca de Carolina, que saíra na portaria anterior (27 agosto) por equívoco, Diógenes Gonçalves.
- Em 9 jun 1935 [Pacotilha] Telegrafei Interventor desmentindo publicação Imparcial ao qual foi dirigido telegrama seguinte: Desmentimos maneira formal telegrama publicado ontem Imparcial, afirmando falsamente cel. Justiniano Coelho teria aconselhado nossa adesão União Republicana. Permanecemos solidários Partido Social Democrático. Tradicionais lealdade e tirocínio políticos Coronel Justiniano desautorizam semelhante atitude digna adversários oposicionistas forgicadores infâmias. Pedimos publicidade (ass.) Diógenes Gonçalves e outros.
- Em 4 jan 1938 [Pacotilha] Carolina exulta: Carolina 29 dez 1937 - Exmo. Sr. Dr. Paulo Ramos - M.D. Interventor Federal neste Estado - São Luiz - Exmo. Sr. - é com a mais sincera e justa satisfação que venho por meio desta, trazer ao conhecimento de V. Excia. a grata notícia para nós carolinenses da inauguração a 26 deste, da linha aérea Parnaíba x Carolina [Nota - o percurso, Parnaíba, PI a Carolina, MA, tem por volta de 950 km], pelo hidro avião Ypiranga, da Condor, a qual escolheu de logo e acaba de nomear para seu representante nesta cidade o Sr. Diógenes Gonçalves de Souza. Congratulando-me com o governo de V. Excia. por tão auspicioso acontecimento que vem assinalar uma nova faze de prosperidade para o Maranhão, especialmente para a zona do Alto Sertão, apresento a V. Excia. em nome dos bons carolinenses os mais sinceros agradecimentos pelo grande melhoramento que acaba de nos proporcionar o patriótico governo de V. Excia. Sem outro objetivo, subscrevo-me com especial apreço, Justiniano Coelho.
- Em out 2000 [Revista Século XX - Gente que fez Carolina] Diógenes Gonçalves de Sousa - Comerciante - Pecuarista - Aeroviário (1885 - 1957) - Diógenes Gonçalves de Sousa homem sério, honesto, trabalhador e dedicado à família foi um exemplo para a geração da sua época e também para as futuras, principalmente por ser um perseverante na conquista de seus objetivos. Nasceu na cidade de Carolina no dia 19 de abril de 1885, embora tenha vivido boa parte da sua infância na cidade de Balsas no Maranhão, retornando depois à sua terra natal. Ainda bastante jovem e idealista no que poderia vir a ser no futuro, tentou a atividade de comerciário indo trabalhar na Farmácia Carvalho de propriedade de Alípio Alcides de Carvalho. Era para ele uma atividade nova, diferente e pioneira pois a própria função exigiria de sua parte conhecimentos mais aprofundados. Não era o mesmo que vender tecido. Era um homem que enfrentava desafios. Deu-se muito bem. Jovem ainda, com vinte e três anos em 1908, casou-se com Ana do Rego Maranhão, filha de Antônio do Rego Maranhão e Raimunda Rodrigues Maranhão. Desse casamento nasceram os seguintes filhos: Alcina (falecida), Abílio, Eunice, Rossini (falecido), Gilberto (falecido), Genésio, Diana, Orlando (falecido), Maria de Lourdes, Olga e Maria Lucia (estas três últimas faleceram com pouca idade). Tendo em vista o advento do caucho (borracha) na Amazônia, transferiu-se para a cidade de Couto Magalhães, na margem direita do rio Araguaia, PA, onde desenvolveu intensa atividade comercial desse látex, produto bastante valorizado na época, cuja produção nacional era toda exportada. Regressando a Carolina passou a atividade ligada à pecuária, essencialmente na compra de gado, transporte da boiada, venda nas feiras do Maranhão e com o dinheiro apurado, compra de mercadorias transportadas por tropa de burros. Essas mercadorias iam sortir as prateleiras da sua loja Maranhense, fundada por ele e que ficava próxima do porto das balsas no rio Tocantins. Como se vê, era um homem que não parava, estava sempre em atividade. Esse seu negócio cresceu tanto que tempos depois, na década de vinte, tornou-se um empório abastecedor das cidades do Alto Tocantins.
Devido às dificuldades apresentadas pela geografia regional, precariedade das vias de transporte para São Luís, em termos de comércio para se abastecer, Carolina ficou de costas para São Luís e de frente para Belém, PA, novo ponto abastecedor devido à facilidade da via fluvial, o rio Tocantins. Inicialmente com botes tocados a remo, os conhecidos batelões. Em 1925 como os negócios iam bem, Diógenes comprou uma lancha a vapor de nome Alves de Castro, que rebocava barcas na linha regular que passou a fazer de Santo Antônio (hoje Itaguatins) a Piabanha (hoje Tocantínia) transportando passageiros e cargas. Com toda essa infraestrutura logo tornou-se um forte empresário e ampliou seus negócios quando passou a comprar produtos para exportação, como couro de boi, peles silvestres, pena de ema, babaçu e malva. Com o surgimento dos barcos-motores a óleo diesel, vendeu a lancha a vapor, fechou a casa comercial e passou a administrar as suas fazendas de gado.
Em 1936 por indicação da firma Dias & Irmãos, a maior da região, assumiu a agência do Sindicato Condor Ltda., mais tarde Serviços Aéreos Cruzeiro do Sul, função que exerceu até a sua morte em 1957 quando foi substituído pelo filho Genésio Gonçalves Maranhão, que por sua vez permaneceu até serem canceladas todas as linhas aéreas para Carolina em 1969.
Na década de quarenta fundou juntamente com o sobrinho Joaquim Rodrigues de Sousa e o filho Abílio, a casa comercial Casa Esperança que funcionava na rua Benedito Leite com filial na cidade de Babaçulândia (naquela época Coco), cuja mercadoria era trocada por babaçu, malva e peles silvestres, tudo levado para Belém.
Diógenes foi um dos fundadores do Rotary Club de Carolina no dia 23 de agosto de 1945, cuja reunião de inauguração foi em sua residência. Também fez parte da Maçonaria em Carolina.
Teve destacada atuação nos meios sociais sendo sua residência sempre utilizada para importantes saraus dançantes, época em que ainda não existia o Clube Ideal, clube da sociedade local.
Como funções públicas exerceu a de Juiz de Paz e a de Adjunto de Promotor.
Um fato histórico e interessante para ser divulgado: Em novembro de 1925 Diógenes, Sandoval Aires Maranhão e Benjamim Carvalho, conhecedores da aproximação da Coluna Prestes enviaram carta aos chefes, Juarez Távora e Osvaldo Cordeiro de Faria, hipotecando solidariedade ao movimento. Mandaram também um batelão com tripulação até o rio Manoel Alves Grande, para servir de travessia da tropa revolucionária que ali estava estacionada. Com isso Carolina obteve simpatia da tropa não sendo necessário o povo evadir-se da cidade como aconteceu em outras cidades. Foram bem tratados e a recíproca verdadeira. Diógenes para tristeza de todos, familiares, amigos e conterrâneos faleceu no dia 6 de junho de 1957 com setenta e dois anos.