Livro: Os Carneiro de Mendonça
Livro: Queiroz, Borges da Costa, Machado & Palhares - Genealogia e Histórias
- Nasceu às 7 da manhã na casa da Tijuca à estrada da Nova da Tijuca, 20.
- Batizada no oratório da casa de seu tio avô José Maria Palhares, na rua do Catete 191A.
- Túmulo 5790 cemitério São João Batista, certidão de óbito lavrada em 30 de dezembro de 1941 na 4ª Circunscrição do Registro Civol das Pessoas Naturais, sob o nº 14152 no Livro nº 111 às folhas 7V, rua do Catete, 174.
- Chamada de Nenê pelas irmãs.
- Foi tesoureira da Pro Matre, no Rio de Janeiro, RJ.
- Em carta de 16 out 1894 [JJQJr] ... mandarei por ela algumas musicas que tenho achado bonitas para que as estudes de modo a ter eu o prazer de ouvi-la quando o serviço permitir que eu passe alguns dias felizes junto a ti.
- Em carta de 28 abr 1898 [Laura para JJQJr] Laura já está no Rio de Janeiro, com a filha Anna Amelia, e JJQJr está providenciando a mudança de São Paulo para a Usina Esperança: Anniquinha graças a Deus está boazinha brincando aqui no tapete; logo ao acordar chamou por ti e já ia chorando, foi preciso dizer-lhe que tinhas ido buscar a Dedé [a babá] e Safira [a cadelinha] e a boneca grande o que consolou-a um pouco.
DEDÉ - SILVÉRIA DO ROSÁRIO - Após seu casamento, JJQJr e Laura foram morar em São Paulo, onde JJQJr já morava trabalhando a convite de André Rebouças no Serviços de águas e Esgotos da cidade de São Paulo. Nessa época, foi trabalhar para o casal Silvéria do Rosário, uma ex-escrava nascida por volta do ano 1850. Silvéria foi apelidada de Dedé por Anna Amélia e sua irmã Laura Margarida (Laly). Em 14 out 1945, Anna Amélia de Queiroz Carneiro de Mendonça, transcreveu narrativa de Dedé sobre o início de sua vida quando vivia em criança na fazenda do Sr. Antônio Gonçalves em Rezende, que por uma dívida vendeu seus escravos para o Sr. Costa Machado, que os levou de Rezende até Barra do Piraí de trem e depois em etapas diárias, a pé, andando devagar até a fazenda que era em Minas. Quando chegou na fazenda, o Sr. Machado disse à mulher:
- toma para você esta negrinha, eu a trouxe para você, para ser sua.
D. Mariquinhas disse:
- eu não quero ela dada de boca, quero de papel passado,
e ele respondeu:
- minha palavra é uma só - a negrinha é sua e você pode tomar conta dela.
A escrava era Silvéria do Rosário, depois Dedé.
Sá Mariquinhas a fez entrar para casa e ela trabalhou sempre dentro de casa. O casal tinha o filho mais velho Jordano, Gabriela e Francisca. Eventualmente o casal Costa Machado se mudou para São Paulo e Silvéria os acompanhou e posteriormente foi trabalhar para Laura e JJQJr na casa de quem ficou até morrer em 22 maio 1947, sendo enterrada no cemitério São João Batista, na catacumba n. 960.
Em carta de 24 abr 1907, Laura diz: Como vai a Silvéria? Diz-lhe que escrevi ontem para Poços de Caldas dando notícias da chegada dela a Esperança. Mais tarde em 1940, o casal Anna Amélia e Marcos Carneiro de Mendonça esteve com as duas filhas mais moças do casal Jordano da Costa Machado em Caxambu.
Em carta de 23 jan 1914, estando em São Paulo, Laura escreve para JJQJr: Escrevo-te hoje às 6 horas, pronta para ir com um batalhão, à Penha, ver a propriedade da Silvéria.
Em 24 jan 1914, escreve sobre essa visita: Ontem como te disse, fomos à Penha; a casinha da Silvéria não é má para o preço, ela fez bem em compra-la pois é dento do arraial que é uma pequenina cidade, com bonds e luz elétrica. Não será para admirar que daqui a alguns anos a propriedade valha umas três ou quatro vezes o que custou!
Em carta de 1 jun 1935 [de Laura no Rio para Anna Amelia] Dedé já passou mal por duas vezes depois que foste, mas arriba de novo e lá vai à igreja!
Em carta de 8 jul 1946 de Corpus Christi, TX, USA de Heliodora para Anna Amelia e Marcos, seus pais, manda lembranças para Dedé.
Raça Negra
à Dedé
Rio de Janeiro, dez 1913
Anna Amelia de Queiroz
A essa que esta pena eu quero que descreva
Bondosa, maternal, meiga como ela é,
Se eu quisesse pagar - por menos que lhe deva -
Tentá-lo-ia em vão, seria louca até.
Essa que ainda hoje me ouve, e aconselha, e releva,
Sarou anos atrás meu pequenino pé;
E eu beijo, nessas mãos tão negras como a terra
Essa alma que ela tem, que é branca como a Fé.
Foi escrava; sofreu numa velha fazenda;
E eu gosto de lhe ouvir uma história, uma lenda:
Chora com uma lembrança - outra lembrança a alegra,
E ela esquece o ai de dor que a chicotada arranca
E tudo o que sofreu por não ter sio branca -
Mártir do instinto mau de gente de alma negra!
- Em 15 ago 1899 recebeu diploma de sócia honorária da Escola São José, localizada em Pedro Leopoldo, MG.
- Em carta de 25 abr 1903 [Anna Machado) Já deves ter aí o teu piano, que deve ser uma agradável distração para ti e para as crianças, eu fiquei muito satisfeita do Juca te proporcionar essa distração.
- Em carta de 18 ago 1903 [de Maria Luiza Machado - Chachacha) Já estais na tua casa nova a tanto tempo e ainda não me fizestes a descrição das salas e quartos.
- Em carta de 13 nov 1903 [Laura para JJQJr] Desde que partiste só recebi na terça feira uma carta tua; não achas natural que eu esteja estranhando, tendo tu me habituado a nos correspondermos todos os dias quando estamos longe um do outro? Sei bem que tens outras cartas que mais te interessam responder, e que talvez não tenhas tempo para faze-lo às minhas; se assim for, peço-te me declares com franqueza que deixarei de importunar-te.
- Em carta de 8 jan 1904 [Laura) As nossas filhinhas, graças a Deus passam perfeitamente com o sistema Kneipp. Laly está voltando do banho batendo queixo pois hoje está mesmo fresco; hoje foi a Mana a assistente e elas tem pintado porque querem demorar-se n'água e não convém[Terapia de Kneipp, ou cura de Kneipp, é um conjunto de indicações terapêuticas desenvolvido por Sebastian Kneipp, um hidro-terapeuta que foi fundador e diretor das termas de Bad Wörishofen], e em 9 jan 1904 - As filhinhas continuam muito bem com os banhos frios.
- Em carta de 13 fev 1905 [Laura para JJQJr] pela primeira vez Laura se refere à Silvéria como Dedé, nome pelo qual ficou conhecida através dos anos por todas as gerações seguintes: A Silvéria chegou hoje e muito agradeço as saudades, doces e a gravata. As pequenas estão contentíssimas com a Dedé.
- Em carta de 22 mar 1905 [Laura para JJQJr] Não sei explicar o não ter chegado aí ontem minha carta de domingo, dia de minha chegada, que não quis deixar de escrever, tendo feito de noite, e Napoleão levado cedo e segundo afirma deitado na caixa do Largo da Segunda-Feira. A de segunda foi Titi quem levou para a Central, de madrugada e a de ontem e desta foi e será portador outra vez o Napoleão com mil recomendações de não se esquecer.
- Em carta de 30 mar 1905 [Laura para JJQJr] Quando vieres, de roupa branca, basta que tragas ceroula e camisa de meia, o mais tem tudo aqui, até peitilhos que já fiz. Encontrei aqui camisas, colarinhos e punhos que, à vista dos que estão aí, são novos.
- Em carta de 5 abr 1905 [Laura para JJQJr] Não sei o que hei de fazer para que recebas minhas cartas, e sinto deveras não acreditares que não deixei um dia de mandar carta para o correio. O Napoleão garante-me que põe cedo as cartas na caixa. vão sempre seladas, não sei mesmo a que atribuir o não chegarem aí. Vejo que ficas incomodado com isso, e com razão, mas, não me acuses pois não tenho culpa.
- Em carta de 2 jul 1906 [Laura para JJQJr] Chegamos ontem aqui pouco depois das 10, encontrando todos na mesa do almoço; acabado este teu pai convidou-nos já se sabe, para um passeio ao Leme. Pretestei uma forte dor de cabeça e pedi a Chachacha para ir. Saíram no bond do meio dia, teu pai, Bijou, Chachacha, as filhinhas e Amelinha. Voltaram às 4 h., as pequenas encantadas com a praia e os divertimentos principalmente balanços. Eu fiquei, a princípio com Julieta e Alberto; às 2,12 lá foram eles com o Babi ao football e fiquei lendo no quarto (que desta vez é o da sala de jantar que dá para o Largo) e o Arthur lá em cima. às 2 ½ fizemos lunch, continuei a ler até às 3 h. quando chegou a irmã do Burlamaqui, que não tive remédio senão receber pois a Stella disse-lhe logo que eu estava.
- Em carta de 18 jul 1908 [Laura para JJQJr] Acho que estás te fatigando demasiadamente; é preciso que te poupes um pouco pois podes adoecer o que seria um horror. Por minha vontade, indagarias aqui na tua próxima vinda de um homem prático que te fosse ajudar. Quem sabe não seria muito difícil encontrar? é impossível continuares tão sobrecarregado sob pena de ficares exausto. Talvez seja mais fácil que professoras, pois tenho feito o possível para levar uma e nada consigo. Botei no jornal este anúncio e cá não veio nenhuma até agora: Professora interna - Precisa-se de uma habilitada e séria para ir para Minas; trata-se na Estrada Nova da Tijuca n. 20.
- Em carta de 22 abr 1911 [de JJQJr para Laura, no Rio de Janeiro] Tenho estranhado que nenhuma notícia tenhas ainda dado de como tens passado do mal estar que aqui te perseguia. Esta falta me deixa campo vasto para formular um mundo de hipóteses. Dá sempre uma notícia a este respeito.
- Em carta de 23 abr 1911 [de Laura para JJQJr] Com bastante medo estou quase convencida da existência do nosso filhinho. Em fim que seja bem vindo!
- Em carta de 25 abr 1911 [de JJQJr para Laura] Não te posso descrever, nem poderás nunca avaliar com justiça o quanto me incomodam e preocupam as notícias do que sofrestes anteontem. Eu e Deus - se Deus pode acaso se preocupar um momento com a insignificância de minha vida, o sabemos. São momentos esses em que a vida me repugna, em que odeio do fundo da alma os compromissos de honra que me forçam a estar longe de ti, em que me enojam os desprezíveis ditamos da convenção social que me forçam, à custa de um esforço assombroso, à transigir em o que tenho de mais puro, de mais nobre, de mais elevado no íntimo do meu estranho caráter. é positivamente um inferno para mim. Quem sabe se o que sofrestes não é consequência da véspera, alimentação fora das horas habituais, talvez um prato mais especial, algum excesso, em suma, qualquer coisa que tivesse provocado uma perturbação no aparelho digestivo? Acho conveniente mandares chamar já o Dr. Moreira de Carvalho [Dr. Augusto Cotrim Moreira de Carvalho, formou-se médico em 30 dez 1882, consultório à rua Conde de Bonfim, 172]. é um amigo de tua família e suponho que nosso, e que poderá à pretexto da consulta para este incômodo de momento, emitir uma opinião sobre o teu estado geral. Assim teríamos essa opinião e mais tarde, logo que o Rego volte ao Rio, o consultaríamos de um modo positivo e claro. Se não tens uma resolução tomada sobre esta minha ideia, deves consultar tua mãe que certo estará de acordo comigo. Torna-se absolutamente necessário adquirirmos uma certeza certa de coisa a que possa eu atribuir o teu estado de saúde. Esta dúvida me traz sérias preocupações e muito mais desassossego do que pode parecer. Se vier a certeza de um novo rebento da nossa felicidade, que seja ele um nov elemento de fortalecimento desta felicidade que sinto e que eu espero tu também sintas. Se outra for a causa precisamos conhecê-la para combatê-la de pronto e com energia.
- Em carta de 14 out 1911 [Laura para JJQJr] A D. Anna [a parteira] desencantou hoje e apareceu aqui, debaixo de uma chuvinha bem regular. é uma velha simpática e contando uma porção de fatos encorajadores. Examinou-me e acha-me em magníficas condições. A criança, diz ela, está na melhor posição e acha que eu não tenho razão para estar tão desanimada. Deus a ouça! Perguntei-lhe se achava que era para muito breve e ela disse-me que até o dia 25 poderia estar certa que não seria; daí até o fim do mês poderia ser, mas ela achava o mais certo ser em começo de novembro... Assim podes ficar sossegado por estes dias. Para os últimos dias do mês então vem para me dares um pouco de coragem que cada vez tenho menos; e em 15 out 1911: Ainda não te contei que a D. Anna pensa que o entezinho que trago no seio é menina! Fiquei, confesso, um pouco desapontada, mas coitadinha que culpa terá essa criaturinha do seu sexo?! Desejo muitíssimo desde que fiquei neste estado, dar-te um filho varão, que te seguisse passo a passo, e que fosse uma cópia fiel do papai, chegando à self-perfection mas se for menina espero que, como eu tu a aceites com prazer. Só devemos pensar que assim devia ser e que talvez o rapaz não correspondesse aos nossos sonhos. Se vier ele é porque será o que desejamos!
- Em carta de 18 out 1911 [Laura para JJQJr] Tudo que chegou de Paris está muito a meu gosto; o único senão é faltar da dúzia uma toalha de linho. Será de lá o gatuno ou da Alfândega?! As tuas chandails [ vêtements; suéter, pulôver] são muito bonitas e magníficas para o inverno. As meninas já estão cobiçando as brancas para quando aliviarem o luto andarem com elas nas bicicletas.
Tudo é luz
à mamãe
10 abr 1912
Anna Amelia de Queiroz
Quando a luz jorra da azulada altura
E a luz das cores canta campo afora,
é luz em gotas que o sereno chora
Quando a alvorada pelo céu fulgura.
Exulta a luz dos liriais na alvura,
e quando tudo canta ao vir da aurora
Em cada planta que os jardins enflora
Canta um hino de luz cada flor pura.
A alegria é a luz da alma; é luz o riso
Nos lábios das crianças descuidosas.
Luz de turquesa é o céu que me seduz...
A terra envolta em luz é o paraiso...
E a noite com as estrelas lacrimosas
é saudade de azul... sombra de luz.
Fascinacion...
Ouvindo a valsa desse nome
Para minha mãe
13 jul 1912
Anna Amelia de Queiroz
Como que em notas puras e sonoras
de uma risada cristalina
Começa a valsa... e logo me fascina,
Traz-me doces visões encantadoras
Lento, agora. O espírito enlevado
Sinto cheio do sonho...
E me transporto
A esse país risonho
Que é a fantasia
Onde se sente a alegria
De viver sem cuidado
Numa nuvem de luz e de poesia
E enquanto os ares corta
Com as áureas asas que me empresta o sonho
Me embala docemente
A nuvem divina
Que me encanta e fascina...
E eu suponho
Então que tudo é luz... e lentamente
Subo... voo... Mais forte agora!
E a luz se me colora
De um vermelho ridente
- Cor da aurora
- Em carta de 7 maio 1913 [Laura para JJQJr] Como sabes sou muito esquecida e só a isso é devido a não ter te informado logo da combinação que fiz com a Miss Bethge. ... Não foram à cidade ontem, por ser marcado para a 1a. lição.
- Em carta de 9 maio 1913 [JJQJr para Laura] O professor indicado pelo Eugênio [Gudin] não toma discípulos, desocupou-se do magistério para fixar-se em jornalista. Teremos que cogitar de outro.
- Em carta de 12 ago 1913 [Laura para JJQJr] A Julieta Ribeiro veio ontem tratar as lições, mas achei muito o que ela pediu. Fiquei de mandar resposta para a próxima semana pois vou ver se arranjo mais em conta. Ela quer por português e piano, 1 vez por semana, 150$000 mensais!
- Em carta de 5 set 1913 [Laura para JJQJr] Desejas a minha impressão sobre o football, lá vai ela: a princípio foi de completa indiferença! Ao começar o team em que entra o tão decantado Marcos, comecei a olhar com algum interesse para observar se ele é o que dizem os entusiasmados; fui gostando e tomando interesse: no fim cheguei mesmo a ficar inquieta pois o goal feito pelo América, teve lugar apenas 5 minutos antes da terminação do jogo! Em fim, gostei bastante e uma outra vez não me será sacrifício ir assistir a um match.
- Em carta de 15 out 1913 [Laura para JJQJr] às 4 h estávamos nas Belas Artes onde passamos 1 h e 40 minutos bem agradáveis. Ouvimos Emilio de Menezes, Luiz Edmundo e Bastos Tigre em belos versos, o pianista Júlio Reis em algumas de suas boas composições e Raul Pederneiras, J. Carlos e Calixto divertiram a todos com suas caricaturas, charges e trocadilhos.
- Em carta de 20 out 1913 [Laura para JJQJr] Chegaram agora à tarde 22 cabeças de aves entre frangos, galinhas e 1 galo. O Sr. Machado é correto, quando promete que manda, cumpre.
- Em carta de 18 maio 1914 [Laura para JJQJr] A Paca foi hoje à cidade e encontrando o Américo, este disse-lhe que o Sr. Henrique Tribolet [* 20 abr 1862 †20 maio 1915 - que pintou o quadro do chalet da Estrada Nova da Tijuca, 20] estava muito mal, então Chachacha foi para lá acompanhar D. Carlotinha.
- Em carta de 5 ago 1914 [Laura para JJQJr] Escrevo-te a pedido do Napoleão, que te envia o rascunho junto para que faças o favor de copiar à maquina e assinar como ele mostra aí. Resolveu mudar-se e como costumas ser seu fiador, ele pede-te esta carta para o outro senhorio. A antiga ele me entregará aqui, logo que desocupe a cada das Laranjeiras. O Napoleão pede para dirigires a carta para Napoleão de Oliveira - 2a. Seção do Tráfego Postal - Correio Geral - Rio.]
- Em carta de 19 mar 1915 [Laura para JJQJr] ela relembra que foi de surpresa visitar o marido em Minas nessa data, no ano anterior.
- Em carta de 5 ago 1915 [Laura para JJQJr] Já tiveste mais alguma notícia de São Paulo? O Sr. Penteado com certeza anda atrás dos alemães para ver resolvido o negócio. A propósito, acho que deves pensar bem antes de resolver a tal porcentagem a dar-lhe. Sei que ele tem direito ao teu reconhecimento, mas não vás fazer como papai, que trabalhou para dar lucros aos outros.
- Em 1919 após o falecimento de seu marido, comprou a casa da rua Marquês de Abrantes 189 e mudaram-se para uma pensão na rua do Catete, durante a reforma desta. A nova casa era residência da Mrs. Isabel Andrews que juntamente com Alice Flexa Ribeiro tinham uma escola preparatória para o exame do colégio Pedro II. Com a venda da casa para D. Laura, elas se transferiram para a praia de Botafogo onde fundaram o Colégio Andrews.
- Em 5 dez 1920 [O País] Marcos Carneiro de Mendonça, Laura Machado de Queiroz e Alberto de Queiroz, registraram empresa de artes gráficas com capital de 200:000$.
- Em 22 dez 1922 o automóvel pertencente a D. Laura tinha a placa 746.
- Em 1924 [O Imparcial] Foi a Europa com Laly e chegaram de volta em novembro, viajando de primeira classe, a bordo do navio inglês Highland Patriot.
MINHA MãE
Anna Amélia de Queiroz Carneiro de Mendonça
Vi minha mãe sentada nobremente,
Numa velha cadeira de alto encosto,
Junto à janela que defronta o poente,
Bordando, à luz mortiça do sol posto.
Perguntei-lhe: " Penélope consente
Que se lhe admire a paciência e o gosto?"
Ela sorriu...mas vi que, de repente,
O véu da mágoa lhe velava o rosto.
" Ah! Se a esperança em meus olhos visses!
Se eu pudesse esperar que meu Ulisses,
Como o da lenda ao meu amor voltasse.
Mas sepultou-o o mar da eternidade.
O meu tapete é a teia da saudade..."
E vi que o pranto lhe banhava a face.
- Em 30 out 1927 [O País] Sociedade de Cultura Teatral, No palacete de residência da viúva Queiroz Junior, a convite da poesia Anna Amelia de Queiroz Carneiro de Mendonça, reuniram-se ontem os organizadores da Sociedade de Cultura Teatral, para distribuição e leitura pelos seus intérpretes, dos principais papéis das peças que servirão para apresentação daquela sociedade, que se propõe a trabalhar pelo desenvolvimento e apuro da arte de representar entre nós. A reunião, que correu entre o entusiasmo de todos, estiveram as seguintes pessoas: (entre outros) Sra. Viúva Queiroz Jr., Anna Amelia de Queiroz Carneiro de Mendonça, senhorita Laura Margarida de Queiroz, Srs. Alberto de Queiroz, Adolpho Carneiro de Mendonça e Carlos de Queiroz. Lidos os papeis pelos seus intérpretes, com aprovação geral, foi marcado o início dos ensaios que terão lugar a partir da presente semana. Sente-se assim que a Sociedade de Cultura Teatral saiu do terreno puramente preparatório para começar a ser uma auspiciosa realidade.
- Em 1929 viajou para Europa com Jujuca. Começou a escrever para a filha Anna Amélia, ainda do navio, em 1 jul 1929. No domingo 7, o mar continua a fazer a gente entontecer, mas não quero deixar de escrever hoje pois devemos chegar a Lisboa depois de amanhã 9, à noite. Creio que só desembarcamos na quarta feira 10.
- Em carta de 11 jul 1929 [Laura para Anna Amelia] Mal acabamos de almoçar anteontem, tomamos um taxi e fomos à Torre de Belém, Aquário Vasco da Gama e Museu dos Coches (são próximos), e depois tocamos para os Jerônimos onde ficamos até 7 1/2. Aqui às 10 horas ainda há crepúsculo. Voltamos, jantamos e fomos ao cinema São Luiz vindo dormir à 1/2 noite. Já tinha o auto tratado para irmos ontem à Batalha, Alcobaça e Mafra, passando por lugares interessantes onde Jujuca tirou alguns fotos. Entre estes há óbidos, um castelo forte lindo e Aljubarrota com a casa da célebre padeira assinada com uma pá na porta e dizeres sobre o fato.
- Em carta de 21 jul 1929 [Laura para Anna Amelia e Marcos] Sevilha -Aqui chegamos hoje às 10 1/2 da noite, viajando desde às 8 da manhã. Atravessamos o Tejo de barca (inferior às de Niterói), tomamos depois o trem (comboio) chegando às 4 da tarde à Vila Rica de Santo Antônio. Dissemos adeus às terras portuguesas e atravessamos o rio Guadiana de lancha a gasolina, bem maior que aquela em que vocês fizeram a correria pela Guanabara.
- Em carta de 7 ago 1929 [de Laura para Anna Amelia] Genova, Antes de partirmos de cada cidade, pedirei aos consulados para mandarem toda a correspondência para Roma, que é onde nos vamos demorar mais. Creio que de Milão, vamos fazer a volta Pela Suíça pois fica mais conveniente agora do que na volta do Egito.
- Em carta de 22 ago 1929 (de Laura em Milão, para Anna Amelia e Marcos) Como vão os meus três corações? Tenho tanta saudade deles e de todos! Vocês não podem imaginar! Ontem comprei umas golas de renda lindas e umas bolsinhas para níqueis que eles vão gostar muito.
- Em carta de 29 ago 1929 (de Laura em Florença para Anna Amelia) O que acho que vou comprar é um mármore antigo para o centro do jardim; se encontrar uma coisa antiga, artística e barata, creio que não resisto e mandarei fazer o despacho, e em 20 set 1929 - Afinal comprei em Roma uma estátua de mármore para o jardim.
- Em carta de 16 maio 1935 [de Laura no Rio para Anna Amelia] No sábado 11, Joaquim inaugurou a represa [em Esperança] e fui com Juco na sexta feira. Fizemos muito boa viagem no noturno, eu no leito de baixo e ele no de cima. A inauguração foi às 3 1/2. Correu tudo muito bem, Foram diversas pessoas de Itabirito. Levei 2 malas de doces e sanduiches. Houve champagne e todos estavam satisfeitos. Depois deixou-se tudo lá e os operários comeram com cerveja. à hora marcada, Laly abriu a comporta e deram muitos vivas, etc. Em fim, foi uma festinha agradável e distinta. Joaquim arranjou leitos para segunda feira e nós, Juco e eu, fizemos a viagem de volta otimamente. Heliodorinha não foi porque a D. Laura [diretora do colégio Jacobina] disse que 2 dias faziam falta e ela poderia por isso perder o ano. Ela está tão boazinha que não quis mesmo ir. Chegou em casa na quinta feira com os olhinhos cheios d'água e eu disse que ia falar no telefone com a D. Laura e ela não quis. Disse que era melhor mesmo não ir pois precisava estudar. Eu fiquei com muita pena dela, porém eles dois estavam influidíssimos, à noite, um convidava o outro para falar sobre Esperança. Em fim já passou e ela ficou muito conformada.
- Em carta de 29 ago 1936 [de Laura para Anna Amelia] a bordo de vapor da Royal Mail Lines Lmited, indo visitar Laly, Joaquim, Lalu e Branca em Portugal.
- Em 29 out 1941 [A Noite] noticia de que foi atropelada no largo da Carioca e fraturou a coxa direita.
Itabirito, novembro 1956
Hino em homenagem à Laura Queiroz,
patrona do Grupo Escolar Laura Queiroz
José Bastos Bittencourt
Somos pequenos vanguardeiros
Do patrimônio do Brasil
Temos à frente a grandeza
Do céu imenso cor de anil
Nossa bandeira, nosso lema
Nossos heróis, nosso ideal
Toda esperança nos anima
A defendê-los contra o mal
Coro
Laura Queiroz o teu exemplo
Nos dá firmeza no porvir
Deste ao Brasil uma riqueza
E um pedestal que nos sorri
Os grandes feitos de teus filhos
Nos trazem forças eternais
Que asseguram ao Brasil
As grandes glórias imortais!
- Em artigo no Jornal do Brasil de 31 dez 1941
Dona Laura, por Joaquim Tomaz
Com a morte, ontem ocorrida, de D. Laura Machado de Queiroz, perde a família brasileira uma das suas mais expressivas e benquistas figuras.
Oriunda de distinta família carioca, a ilustre dama viveu grande parte de sua vida em Minas Gerais, ao lado de seu esposo, o engenheiro José Joaquim de Queiroz Junior, que foi o iniciador da indústria siderúrgica entre nós.
Desde a sua mocidade D. Laura começou a demonstrar as suas incomuns qualidades reveladoras de uma personalidade própria, alta e nobremente inspirada para exercer o fascínio de sua sedução moral e mental sobre quantos cruzassem o seu caminho ou viessem até à porta de seu coração em busca de um agasalho, de um conforto, de um conselho amigo ou de uma palavra de bondade sincera. Ela a todos despachava com aquela mesma solicitude eucarística que fazia com que o seu coração se partisse em pedaços de humana ternura e de sublime altruísmo, embora a sua essência continuasse a mesma em cada partícula e fosse íntegra no seu todo de consolação: a essência do seu amor permanente pe4los seus semelhantes, pelos pequeninos, pelos infelizes!
Há na vida desta veneranda senhora brasileira, um marco indelével e em tudo e tudo formoso: é a história da criação da Usina Esperança, que seu marido fez com as mãos e ela batizou com o mais lindo dos nomes que se possa dar a uma iniciativa sobre todos os pontos arriscada como foi aquela da montagem dos primeiros altos fornos que tivemos. Sucumbindo já depois de vitorioso, o companheiro que Deus lhe dera e o destino plasmara na figura de um homem que possuía atributos de raro encanto, D. Laura secou suas lágrimas de viúva não na passiva resignação dos dias felizes. O seu morto querido não morrera: estava ali, bem aos olhos seus, bem vivo, bem real, dando sangue e dando alma ao seu arrojo chamado: Esperança! E ela tomou o seu lugar, pôs mãos ao comando e continuou o trabalho que não sofreu colapso, mas que tão só lhe serviu de alento, de estímulo, de elmo no combate heroico e belo!
Quiseram os Fados enfeitar lhe a vida de um modo bastante singular, dando-lhe de sua união sagrada com Queiroz Junior três filhas que lhe foram em todos os instantes da existência semelhantes a três anjos que jamais saíram de junto de seu coração, que esfriava ao sopro dos anos, mas onde elas punham a cada dia o calor de uma afeição contínua e tecida da mais odorante delicadeza.
O seu passamento ontem verificado foi causa de grande consternação em todas as camadas da nossa sociedade. Entre grandes e entre pequenos. Grandes que admiravam e pequenos que cultuavam D. Laura Machado de Queiroz pela sua lhaneza e pela sua bondade.
Os primeiros cobriram-lhe ontem o féretro das mais custosas coroas que traduziam em ricas inscrições e em flores de rara formosura, o testemunho da perene saudade que lhes deixou essa criatura suave, singela, simpática e serena, cujo transe pela terra foi marcada pela sutileza de um espírito cheio de meiguice e mansidão.
Pelos segundos é que lhe trago eu essa humilde braçada de rosas - as pobres letras que aqui vão - que deponho sobre a tumba que lhe guardou o corpo esguio de andorinha, cujo beiral a morte desabara, mas que achou ainda tempo de deixar o seu coração espargido entre aqueles que a amaram, a veneraram, a admiraram.