História de Laura Margarida de Queiroz (Laly)


1-12-1898 - Rio de Janeiro . 15-5-1995 - Rio de Janeiro [idade: 97 anos]

   NOTAS


Livro: Queiroz, Borges da Costa, Machado & Palhares - Genealogia e Histórias

- Era filhada de sua avó Anna Palhares Machado.

- Em carta de 18 fev 1903 [Anna Palhares Machado para sua filha Laura) Sobre os remédios que o doutor receitou para Laly, deve ser muito bom, pois vi no Chernoviz [Os manuais de medicina popular do Dr. Chernoviz foram essenciais na difusão de saberes e práticas aprovados pelas instituições médicas oficiais para regiões rurais do Brasil imperial] e são todos para indigestões e incômodos de estômago, por isso ela deve se dar bem. 

- Em carta de 1 maio 1903 (Anna Palhares Machado para sua filha Laura) A Margarida já foi ao Dr. Moreira de Carvalho e o consultou com ele sobre Laly, expondo tudo conforme mandastes dizer, as datas em que ela teve as indigestões, os remédios que ela tomou do doutor de Itabira e tudo bem explicado, ele diz que ela tem uma dispepsia que é bom ela tratar-se para não ficar crônica, ele receitou um remédio que já está aqui comigo e amanhã vou despachar, e vai mandando dizer como ela passa.

- Em carta de 9 out 1903 (Anna Palhares Machado para sua filha Laura) Dizes que Laly teve outra enxaqueca , mas que foi mais branda, , deves continuar a dar os remédios pois já se vê que ela está melhor e que como é ainda pequena que com a idade passara pois é a opinião do Dr. Moreira de Carvalho.  

- Em carta de 11 nov 1903 [Laura para JJQJr] Ontem tendo a tarde ficado boa, não quis deixar de passar mais um dia e levei Laly ao médico que  examinou-a muito e disse que não eram enxaquecas e sim engorgitamento no estomago, e falta de ácidos. Receitou um xarope iodo tânico de Guillermond, mandando adicionar 3 g de glicerofosfato de cal. Aproveitei o tempo que esperei o bond na Muda, e mandei aviar a receita, tendo ela tomado já a primeira dose agora que acabou de almoçar. Em 17 nov - Laly continua a tomar o remédio que por enquanto lhe tem feito bem pois não tem tido as malditas indigestões.

- Em carta de 20 maio 1907 [Laura para JJQJr] Escreve ao homem dos frangos para que mande mais; como sabes Laly não come outra coisa e aqui são caríssimos.

- Em 18 dez 1907 [Diário de Laly] No dia 14 chegou da Samaritaine armazém de Paris as nossas encomendas que foram recebidas com grande prazer nosso. Vieram uma porção de fazendas para nós e vestidos feitos para tia Bijou, o que mais apreciei foram os brinquedos; para Anniquinha veio o jogo do pato e um homem de bicicleta e para mim um fogãozinho e um outro homem de bicicleta (nós tínhamos mandado buscar um automóvel para cada uma mas veio isto.)  Também vieram brinquedos para os primos e outras crianças. 

- Em 29 jan 1909 [Diário de Laly] Ontem não demos lição por ela continuar doente.  Então chamamos Salvina para brincar conosco até a hora do almoço.  

- Em carta de 12 out 1911 [JJQJr para Laura] Ainda uma vez me convenço de que a causa primordial das enxaquecas de Laly é uma qualquer perturbação nervosa provocada pelo mais pequeno excesso que ela faça. Estou convencido que com a idade e sua consequente calma, isto irá desaparecendo.

- Em carta de 1 dez 1911 [Laura para JJQJr] ... As duas passaram muito bem a noite depois da chegada do casamento que foi tão tarde, por terem elas teimado em ouvir os discursos até o fim e tendo chegado à cidade às 10 e 10, só tiveram bond às 11, pois não há às 10 1/2.  Ficaram encantadas pelo talento oratório do Teixeira Mendes. Laly diz que tirou essa fotografia para mandar-te.

A MINHA IRMã LALY  - 1911

Oh musa, minha musa sonhadora!

Oh musa, minha amiga, minha irmã!

Minha visão formosa sedutora,

Risonha como a estrela da manhã!

 

Tu és a luz que meu viver enflora,

Oh minha musa, minha doce irmã!

Quero beijar-te os lábios de amora,

Quero beijar-te as faces de romã!

 

Oh musa em cujos olhos cismadores

Minha alma vai sonhar, visão querida,

Tu que se rio és toda riso e flores

 

E que soluças se me vês sentida,

Nunca me deixes, que se além te fores,

Eu morrerei pois vivo em tua vida!...

 

A vida - balada

à Laly

jan 1912

Anna Amelia de Queiroz

 

Não vês um barco, querida,

Que o vento ao longe conduz?

Eis que me vem lembrar

Que a vida é um barco a boiar

Perdido no infindo mar.

Onde vais barco da vida?!

Que buscasm batel sem luz?!

 

O navegante, querida

Busca um clarão que o seduz;

Crê, espera, e está contente

Que assim o leve a corrente

Oara o clarão reluzente.

Onde vais, barco da vida?!

Que buscas, batel sem luz?!

 

- Em carta de 12 jun 1913 [Laly para JJQJr] Muito obrigada pelo caderno de história inglesa que mandaste, vamos continuar a estudá-la, o que me agrada muito, pois é muito interessante. ... Agora vou começar a preparar as lições para terça feira que ainda não fiz nada!

- Em carta de 11 mar 1915 [Laura para JJQJr] Como te disse ontem, a poetisa amiga de Anniquinha e Laly e discípula da ângela Vargas, pediu-me para levá-las hoje à aula de dicção. Marcou das 3 às 3 1/4 no relógio da Glória... Levou-nos à rua Benjamim Constant, onde mora a Mlle. Vargas, numa casa magnífica e muito bem mobiliada. Assistimos as recitações das alunas que eram hoje 11. Apenas a Lia Hime diz bem, as mais são infinitamente inferiores a Laly. Depois de dizerem todas as moças, ela disse a Laly que sabia que ela dizia também e pedia-lhe que dissesse alguma coisa; Laly fez uma fitinha, mas depois disse o Pelicano; disse muito bem, mas muito nervosa.  A ângela cumprimentou-a muito e viu-se que ela gostou mesmo. Já se sabe, falou logo em tê-la como discípula e que em 4 meses faria muito dela! Em fim foi muito amavel e a nosso pedido recitou Camões. Gostei muito, muito. Foi uma tarde agradável.

Doce certeza 

1915

Laura Marcariga de Queiroz - Laly

 

Debruçada à janela em ti pensava

Fitando as várias flores do jardim

Mas uma ideia atroz me atormentava

Ele estará também pensando em mim?

 

O girassol de cabeleira flava

à rosa, ao lírio, aos cravos, ao jarmim

A todos, ansiosa eu perguntava

Se tu estavas também pensando em mim

 

Ficou mudo o jasmim, o lírio e o cravo

E o girassol indiferente e flavo

E a rosa, a rir, sanguínea de ...

Eu ... ... tanto, sem tristeza

Porque no coração tinha certeza

De que estavas também pensando em mim

- Em 12 out 1916 [A Notícia - Pé de coluna] no rink do Fluminense F.C. entre as graciosas demoiselles que se entregaram aos prazeres da patinação: entre outras, Laly e Anna Amélia de Queiroz.

- Em 1924, de abr a dez,  foi à Europa com sua mãe. A primeira notícia de Lisboa é do dia 11 abr 1924, onde estão hospedadas no Hotel Borges, que ficou sendo o local de hospedagem da família até a década de 1980. Em 24 abr estão no Porto. Em 30 abr partiram do Porto para Figueiró onde ficaram 9 dias, com os parentes de quem ficamos gostando sinceramente. Em 10 maio de volta ao Porto, partiram em 11 maio para a Espanha. Em 6 de junho, carta de Paris. Em 20 jun em Reins. Em 2 jun Londres, hotel Belgravia, Grosvenor Gardens, Victoria, London SW1. Em  16 jul em Bruxelas. Em 25 jul em Frankfurt. Em 2 ago Berna. Em 3 ago Genebra. Em 4 ago Lausane. Em 8 ago Milão. Em 13 ago Brescia e 14 ago Veneza. Em 24 ago Florença e em seguida Roma. Em 2 set Nápoles. Em 12 set Gênova. Em 27 set de volta em Paris. Em 12 out Madri, saindo a caminho de Portugal.

- Em 15 jun 1927 [A Noite] Sem Fio - programa para hoje: às 21 horas 5 minutos: concerto no estúdio da Radio Sociedade - programa do concerto - entre outros: a musa (poetisa Laura Margarida de Queiroz), o poeta: Guy de Maupant.

- Em 6 jul 1927 [Correio da Manhã] Radio Sociedade (Onda 400 metros), às 9:05 horas Programa lítero-musical com o concurso de entre outros: Anna Amélia de Queiroz Carneiro de Mendonça, senhorita Laura Margarida de Queiroz e Sr. Guy de Maupant.

- Em 24 nov 1927 [Gazeta de Notícias] Basta dizer que a protagonista de Eva, será a senhorita Laura Margarida de Queiroz, a extraordinária poetisa brasileira. A seu lado, outros elementos de méritos equivalentes encontram-se vivamente empenhados na realização perfeita dos nobres fins da Sociedade de Cultura Teatral, a quem Alberto de Queiroz, o cintilante, está dando o melhor de seu espírito e de sua alma.

- Em 26 nov 1927 [Gazeta de Notícias] Na noite de segunda feira próxima, a Sociedade de Cultura Teatral, fundada pelo fino escritor e abalizado crítico Dr. Alberto de Queiroz, fará sua apresentação ao público carioca, no palco do Municipal.  Representar-se-á Eva de Paulo Barreto com a senhorita Laura Margarida de Queiroz, na protagonista. 

- Em 29 nov 1927 [Gazeta de Notícias] Eva, de João do Rio, pela Sociedade de Cultura Teatral - ... Mas... Mas falemos nos intérpretes de Eva.  Evitamos outro lugar comum: a senhorita Laura Margarida de Queiroz é uma revelação. Seria para quem não a conhecesse. Porque quantos sabem ser ela um dos talentos mais luminosos que nossa raça tem produzido, só poderia esperar o que viu: uma reafirmação maravilhosa de seu temperamento excepcionalmente sensível. Interpretando Eva, a senhorita Laura Margarida de Queiroz foi bem essa esfinge decifrada - a mulher de que nos fala o genial Wilde.  A senhorita Laura Margarida de Queiroz provou apenas que ser uma grande artista não é privilégio apenas de certas raças e determinadas civilizações. é humano. Daí seu triunfo incomparável. Muito poucas figuras do porte artístico dessa fina poetisa tem pisado o palco do Municipal. Com justiça, sem galanteria, imparcialmente, deve-se reconhecer que a senhorita Laura Margarida de Queiroz ligou seu nome à história do teatro universal. Na cena amorosa, ironicamente amorosa, do 2 ato e na violenta do 3, ambas com Jorge a senhorita Laura Margarida de Queiroz fez passar como um caleidoscópio, toda a gama de um temperamento multiforme e de exceção. Laura Margarida de Queiroz é, já de si, o triunfo magnífico do teatro brasileiro. Temos razões para duvidar: Laura Margarida de Queiroz foi Eva, ou Eva é Laura Margarida de Queiroz? Chi lo sa.

- Humberto Braga (que depois casou-se com Alcina Diniz), ia visitar D. Laura e Laly que estavam no hotel em Lisboa. Na rua, por acaso encontrou seu amigo Joaquim Costa e o levou-o consigo. Joaquim apaixonou-se à primeira vista por Laly. 

- Em 6 fev 1929 - na noite do dia de seu casamento mudaram-se para a Usina Esperança tomando o trem noturno e lá chegando dia 7 fev 1929.

- Em cartão postal de 2 ago 1937 [Laly para Laura] estava com seu marido Joaquim Costa, em Zurique, indo para Munique. Em cartão de 23 ago 1937 a bordo do RMS Almanzora, saídos de Londres a 21, diz: Nem acredito que amanhã às 8 da manhã já poderei ver as 2.

 o o o o o o o o o o o o

Como Laly conheceu seu futuro marido, Joaquim Ferreira de Macedo Costa

Claudino Muniz, era sócio de José Joaquim de Queiroz Jr., na Usina Esperança, e as filhas de ambos se tornaram amigas, especialmente Laly e Alcina Muniz.

Em 1922, para as comemorações dos 100 anos da Independência do Brasil, o sr, Antonio José de Almeida, presidente de Portugal, veio ao Brasil no navio “Porto”, chegando aqui no dia 16 de setembro de 1922 e recebido pelo Presidente Epitácio Pessoa.

Em um artigo sobre a visita do presidente português há o seguinte parágrafo: 

O protocolo correu leve e solto, ao ritmo tropical, mas a agenda foi repleta de cerimónias formais e outras mais ligeiras - chá-dançante, garden party, bailes, corridas de cavalos, trocas de presentes e faustosos banquetes.

Acredita-se que teria sido em um desses eventos que Alcina Muniz conheceu o oficial da Marinha portuguesa Humberto Braga.

O Jornal do Comércio de 24 de setembro de 1922 tem matéria sobre as comemorações e notícia da recepção no Palácio do Catete, onde se lê o abaixo e acredito que seria possível acreditar que, “comandantes de corpos da guarnição dos dois cruzadores portugueses” incluíram a presença do Oficial Humberto Braga que teria nessa ocasião conhecido Alcina Muniz.

A par das altas autoridades do país, todas presentes, viam-se o Sr. Vice-Presidente da República, Vice-Presidente do Senado, Presidente da Câmara, muitíssimos representantes dos Poderes Legislativo e Judiciário, Supremo Tribunal Federal, Supremo Tribunal Militar, Tribunal de Contas, Corte de Apelação, Corpo Diplomático estrangeiro em cujo número viam-se Chefes e Membros de Embaixadas Especiais e Permanentes, Ministros Plenipotenciários, com seus secretários e adidos militares e navais; representantes do Corpo Diplomático Brasileiro, magistrados, médicos, advogados, engenheiros, alto funcionalismo público, oficiais generais de terra e mar, comandantes de corpos da guarnição dos dois cruzadores portugueses, dos navios da nossa esquadra, representantes.......

Em abril de 1924, após a morte do Queiroz Jr., Dona Laura e Laly partiram para uma viagem à Europa, iniciando por Lisboa.

Nessa ocasião, Humberto Braga indo a caminho de lhes fazer uma visita, encontrou seu grande amigo Joaquim Ferreira de Macedo Costa no Chiado e disse:

Estou indo visitar uma brasileira grande amiga da Alcina, venha comigo!

Joaquim ficou indeciso, mas Humberto insistiu, estavam perto do hotel, e o convenceu – e assim apresentou Joaquim a D. Laura e Laly, que em seguida continuaram sua viagem retornando a Lisboa somente em dezembro do mesmo ano.

Joaquim combinou com Humberto de rever as duas brasileiras na sua volta, o que aconteceu e Joaquim perguntou a Laly se poderia escrever para ela pois em seguida iria partir numa viagem da Marinha em torno da África.

Joaquim escreveu inúmeras cartas para Laly, que as lia com interesse, porém nunca as respondeu. Quando ele chegou de volta em Lisboa e constatou que não havia mesmo respostas, parou de escrever e seguiu sua vida.

Por outro lado, Laly continuou sua vida no Brasil e a certa altura se lembrou do português e de nunca ter respondido suas cartas. 

Consultou então dona Laura a respeito de que enviar um pedido desculpas de nunca haver respondido as cartas que havia relido e achado muito interessantes, e dizer que gostaria que ele escrevesse novamente.

Joaquim gostou da notícia e recomeçaram a correspondência. 

A certa altura, Humberto Braga que estava no Brasil, foi o mensageiro do pedido de casamento, ocorrido na casa da rua Marquês de Abrantes 189. (Nota curiosa dessa ocasião, foi que após Humberto Braga ir embora depois de fazer o pedido, dona Laura encontrou na sala de visitas, dentro de um enorme vaso que enfeitava a casa, um espanador de pó, de penas de avestruz, que a empregada havia esquecido, como se fosse um enfeito dentro do vaso).

Em 1929, Joaquim que só havia encontrado com Laly em 2 ocasiões em Lisboa, chegou logo antes do casamento e aqui ficou para sempre.

Humberto Braga tinha 2 grandes amigos na Marinha portuguesa: Joaquim Ferreira de Macedo Costa. E o Vianna (não conseguimos lembrar o primeiro nome), que depois se casou com Maria Judith da Costa Pereira e teve uma filha Judith (de apelido Cuquinha) que esteve no Brasil e ficou conhecida de todos.

Nota 1 = 1822 – 1922, O Centenário da Indenpendência do Brasil, Nelly Martins Ferreira Candeias, 2019.

Nota 2 = https://osaldahistoria.blogs.sapo.pt/nao-ha-viagem-presidencial-como-a-55666

 

Links externos


Casamento Jujuca e Athayde

descrição: Filme amador do fundo Austragésilo de Athayde, do acervo da Academia Brasileira de Letras.
Digitalizado no LUPA, em 2024, a partir de material reversível silencioso, em 9,5mm.


Anexos


Laly - Laura Margarida de Queiroz Costa

Poema de Laura Margarida de Queiroz Costa, homenagem de uma brasileira, no V centenário da morte do Infante D. Henrique - agosto de 1960

Laly - Laura Margarida de Queiroz Costa

1972 - Anna Amelia por sua irmã Laly

Álbuns


Residências - Marques de Abrantes - a casa

Rua Marquês de Abrantes, 189 - Casa para onde se mudaram Laura Machado Queiroz, após a morte de seu marido José Joaquim de Queiroz Junior, suas filhas Anna Amelia e o marido Marcos Carneiro de Mendonça e a filha nascida em 1918 Marcia, Laura Margarida (Laly), Maria José (Jujuca), e as irmãs de Laura, Margarida, Maria Luiza e América.

26 fotografias.


Anna Amelia & Laly



26 fotografias.

Usina Esperança (Queiroz Jr.) & Gagé e Bonga

Com a morte do Engenheiro José Joaquim de Queiroz Junior, o nome da Usina Esperança passou a ser Usina Queiroz Jr., no entanto, em família, sempre nos referimos a ela somente como: Usina, ou Esperança ou Usina Esperança.

170 fotografias.






Copyrigth © 2021 . Priscilla Bueno