Livro: Os Carneiro de Mendonça
Tivemos muito contato a vida toda. Era inteligente e uma poetisa sensível. A última vez que a visitei em dez 1996, estava com 94 anos, lúcida e bem disposta. Nas palavras do Padre Pedro Guimarães Ferreira, seu sobrinho: "shakespeareana entusiasmada, a quem se referia como o "Shake", também vibrava com Beethoven, que ela alcunhava de "B". Melhor gosto, é difícil...".
Eternamente (1950/60)
Não adianta à sorte ser contrária
A um afeto que aumenta dia a dia
E, passando do efêmero ao eterno,
O desgaste do tempo desafia
Mesmo que entre nós interpuzessem
O ar sem azas e o mar sem velas
Restaria a lembrança de um passado
Reavivado ao brilho das estrelas
Nem fôra de supor que um sentimento
Vazado na mais pura essência humana
Viesse de algum modo a esmorecer
E, a vê-lo sujeito ao contingente,
Antes quizera nunca ter sentido
O que hoje é a razão de meu viver